vou trocar seus retratos pelos de outro alguém
Belo Horizonte, 02 de julho de 2023
☼ 12-24
Dois de julho é um dia muito peculiar e bem interessante. É o dia do meio do ano, é como se fosse um ano novo dentro do ano. Cumprimos metade da meta, estamos vivos, chegamos até aqui, é um milagre! E temos meio ano novinho pra viver. Passamos 182 dias e temos mais 182 dias até o fim de 2023. É a oposição da passagem do sol entre os dias 31 da noite de ano novo e o 1.º dia de ano novo. É Dia do bombeiro, do Hospital e da Bahia! Aniversário do Eduardo, meu sobrinho artista. Falta um dia para o aniversário do Pablo, e dois dias para o aniversário da minha querida Lulu. E é um dia um tanto movimentado para quem lida com palavras, neste dia nasceu e morreu um pequeno panteão das letras: Em 1877 nasceu Hermann Hesse, em 1887 Antônio Carneiro Leão, em 1869 Hjalmar Söderberg, em 1916 a magnífica Zélia Gattai, em 1923 Wisława Szymborska. Neste dia fizeram a viagem de volta: Nostradamus, em 1566; em 1778 Rousseau, em 1961 Hemingway em 1977 Nabokov. Em 2004 dissemos adeus à deusa Sophia de Mello Breyner. Em 2011 morreu Itamar Franco. Em 1937, neste dia também desapareceram Amelia Earhart e Fred Noonan, durante a tentativa de realizar o primeiro voo equatorial ao redor do mundo. Em 1900, 2 de julho foi o dia do primeiro voo de um zepelim. E em 1940 se instituiu a lei que implantou o salário-mínimo no país. Em 1964 é assinada, nos EUA, a Lei dos Direitos Civis de 1964 destinada a proibir a segregação em locais públicos. Pensem se não é um dia fantástico? Não foi em 2 de julho, mas qualquer dia é perfeito para comemorar a inelegibilidade de um genocida idiota.
André Dahmer ❤
“e, se um homem pode
dormir salgado de mar,
e pela manhã se descobrir
guardador de rebanho
e se um outro acordou inseto
na mente de um escritor,
e se dos dedos de uma pintora
floresceu um abaporu,
e se numa tela móvel irromperam
formigas e um cão andaluz,
e se campos e ramos e rosas
pariram territórios imaginários,
tu podes amanhecer tristeza,
entardecer esperança e anoitecer sol”
♠
João Anzanello Carrascoza
Em 02/07/1916, Fernando Pessoa, que tinha descoberto a mediunidade alguns meses antes, registou em seus escritos a seguinte comunicação de um espírito:
12h10
Nenhum homem é homem se não agir por motivos ligados à sociedade. Quem afecta indiferença ou despreocupação trai a sua missão no mundo. Não te estou a dizer isto para te dissuadir de agires como desejas agir agora; no entanto, pensa no que eu digo quando tiveres uma oportunidade espiritual. Estás demasiado sujeito a fantasias passageiras e és leviano para com os teus deveres fundamentais na terra. Decide-te a obter controlo de ti próprio – por mais desagradável que isso possa ser para a tua infantilidade de espírito. Por que duvidas?
Mais tarde, no mesmo dia
[…] Não passa um dia em que tu não mostres a tua impaciência. Não deves fazer isso. O que tem de acontecer acontecerá apesar de tudo. Estás demasiado nervoso. Acalma-te. Pareces um homem prestes a fazer uma coisa fatal, quando nada de mau vai acontecer e o que virá chegará do exterior. Nunca me interrogues. Quando eu quiser responder a uma pergunta tua, eu «adivinharei» essa pergunta. Não precisas de a fazer. Nada mais.
Fernando Pessoa – Escritos mediúnicos: In Escritos Autobiográficos, Automáticos e de Reflexão Pessoal – Ed. A Girafa
Perguntemos a Orago |
Saiu o Ás de Espadas, num dia de quase ano novo, que ainda por cima caiu num domingo. É um presente do tarô para você, tome como tal. Essa carta quer nos falar a respeito de corrigir o rumo, recalcular a rota, de recomeçar. Calibrar, consertar. Tem uma placa de pare neste arcano. 🛑 Pare por um momento e pense no que quer fazer, pense no que está precisando ser consertado no seu cotidiano, seja a torneira que pinga sem parar, seja um relacionamento ruim ou uma consulta que precisa ser marcada. É uma boa hora para recalcular a rota. Para reconsiderar. O Às de Espadas indica que as ideias estarão mais claras, renovadas. Mostra que algo vai se estender à sua frente como um caminho aberto. Essa carta promete coisas inesperadas, promete ser uma seta que vem disparada cortando o excesso. É uma espada afiadíssima. É bom cuidar para ver o que deixa no caminho onde ela passará.
As espadas indicam comunicações, pensamentos, palavras, e quem as empunha pode ou não ser um anjo. E as palavras serão facas de dois gumes, que curam ou ferem. Mas a vítima ou herói é sempre você. O Às de Espadas no dia dois de julho te dá a oportunidade de respirar e olhar de novo sua lista de objetivos, suas metas. Ela quer dizer segunda chance. Quer dizer rearranjar os caminhos. Tem algo na sua vida precisando de uma segunda chance? De uma correção de rota? De reconsideração? Se tem, aproveite o dia 2 de julho, aproveite a semana que começa, o holístico está te dando uma chance. Já sabemos o que acontece quando a gente não agarra os cabelos da sorte.
Recomece. Recomeçar pode ser estranho, ao mesmo tempo que aponta para o futuro, carrega o alforje do passado nas costas. Mas não é preciso se assustar, o Às de Espadas te oferece a possibilidade, você só usa se quiser e/ou precisar. Às vezes continuar no mesmo plano também é vida. E recomeçar não significa perder o que você já fez. Não é jogar fora o passado, as milhas que você percorreu são muitas. É só observar aquela curva que você não fez logo ali atrás e se quiser, retornar. Mas a paisagem da janela que você já viu é eterna. Não existe desver.
Sempre contamos uma história sobre nós mesmos, em vários níveis: num grande nível (quem somos, o que somos, como achamos que gostamos das coisas, quais nossos valores, etc.), num pequeno nível, (esse ano faço dieta, faço isso ou aquilo, estou estudante, estou mãe de crianças pequenas, estou chefe na minha empresa, estou desempregado); em micro níveis. Ficamos sempre repetindo essas historinhas sem parar na cabeça, muitas vezes sem perceber. Para recomeçar, é aconselhável que a gente pense um pouco nessas histórias e historinhas. Vamos nos lembrar de que nós também, o tempo todo, somos narradores não confiáveis de nossa própria vida. O Ás de Espadas fornece um recurso nesta semana para a gente lidar com isso e reescrever algum pedaço do roteiro que estamos seguindo. O nosso enredo é menos imutável do que parece. É claro que algumas coisas não podemos controlar, nem sequer saberemos delas, como as coisas do inconsciente, por exemplo. Mas não é delas que se trata. Falamos de corrigir o rumo do que é possível. É sempre sobre o que é possível.
Num ensaio a respeito do conto Groselhas de Tchekhov, o crítico George Saunders diz que aprecia no escritor russo a capacidade que ele tem de mostrar as incertezas de seus personagens, que Tchekhov não está desconfortável com a incerteza da vida. Que esse escritor tem, em seus contos, o dom de fazer com que seus personagens estejam frequentemente reconsiderando, repensando. Que eles não são reféns das certezas. Saunders diz:
Esse sentimento de afeição pelo mundo assume, em suas histórias, a forma de um constante estado de reexame. (“Tenho certeza? É mesmo? Minha opinião preexistente está me levando a omitir alguma coisa?”) Ele tem o dom da reconsideração. A reconsideração é difícil; é preciso coragem. Temos que negar a nós mesmos o conforto de sermos sempre a mesma pessoa, aquela que já chegou a uma resposta há algum tempo e nunca teve motivos para duvidar. Em outras palavras, temos que permanecer abertos (fácil de dizer, dessa forma confiante da Nova Era, mas tão difícil de realmente fazer, em face da vida real, opressiva e aterrorizante). Enquanto observamos Tchekhov continuamente, duvidando ritualmente de todas as conclusões, somos confortados. Não há problema em reconsiderar. É nobre – santo, até. Pode ser feito. Nós podemos fazer isso. Sabemos disso pelo exemplo que deixa em suas histórias, que são, digamos, esplêndidas.
[…] Em um mundo cheio de pessoas que parecem saber tudo, apaixonadamente, com base em pouca informação (muitas vezes enviesada), onde a certeza muitas vezes é confundida com poder, que alívio é estar na companhia de alguém confiante o suficiente para permanecer incerto (ou seja, perpetuamente curioso). George Saunders no livro Nadar num lago à chuva.
Temos que negar a nós mesmos o conforto de sermos sempre a mesma pessoa. Adoro essa frase, de vez em quando. É um pouco disso que o Ás de Espadas fala. As certezas constroem o nosso mundo, mas também nos cristalizam nele. E além das nossas certezas existe um infinito de possibilidades. As histórias que já acordamos repetindo em nossa mente podem ser aprisionantes. Se quiser arriscar um salto ainda maior, pode repensar tudo, por que não estrelinha?
Nesta semana, vamos refletir sobre as nossas histórias aprisionantes e vamos novamente calibrar nossa bússola, nosso GPS, vamos acertar o rumo do que não vai bem, isto é possível. É preciso coragem para reconsiderar, para recomeçar, eu sei. Mas com a ajuda do Às de Espadas e do meio ano novo, todos poderemos. 😉 Afinal, somos filhos do mistério e do silêncio.
Boa viagem, boa semana, Feliz Meio Ano Novo, teimosinhos.
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A carta de tarô Ás de Espadas é uma das cartas mais poderosas do baralho. Ela representa o início de um novo ciclo, um recomeço que pode ser doloroso, mas que trará muitas oportunidades para o crescimento pessoal. Ela é geralmente associada à tomada de decisões difíceis e à necessidade de coragem para enfrentar os desafios que se apresentam. O Ás de Espadas é uma carta que indica a necessidade de revisão. Ela sugere que é hora de deixar para trás o passado e seguir em frente. Essa mudança pode ser difícil, especialmente se você está deixando algo para trás que lhe era muito importante. No entanto, é importante lembrar que o recomeço pode ser uma oportunidade para crescer e evoluir. Uma das principais mensagens da carta de tarô Ás de Espadas é a importância da clareza mental. Ela sugere que, para seguir em frente, é necessário ter uma mente clara e focada. Isso significa que é importante deixar de lado as emoções e os pensamentos negativos que podem estar atrapalhando seu progresso. É hora de olhar para o futuro com otimismo e determinação.
Outra mensagem importante da carta Ás de Espadas é a necessidade de coragem. Recomeçar pode ser assustador, especialmente se você não sabe o que esperar. No entanto, essa carta sugere que é necessário ter coragem para enfrentar os desafios que se apresentam. O Ás de Espadas é um lembrete de que nada é permanente. Lembre-se de que cada fim é também um novo começo, e que a vida é uma jornada cheia de altos e baixos.O Ás de Espadas representa um recomeço poderoso e cheio de oportunidades. Ela nos lembra da importância da clareza mental, da coragem e da determinação para enfrentar os desafios que se apresentam. Se você está passando por um momento difícil em sua vida, lembre-se dessa carta e siga em frente com otimismo e confiança.
Galvão Bertazzi❤
Um texto que pavimenta a estrada |
Nesta sala atulhada de mesas, máquinas e papéis, onde invejáveis escreventes dividiram entre si o bom senso do mundo, aplicando-se em idéias claras apesar do ruído e do mormaço, seguros ao se pronunciarem sobre problemas que afligem o homem moderno (espécie da qual você, milenarmente cansado, talvez se sinta um tanto excluído), largue tudo de repente sob os olhares à sua volta, componha uma cara de louco quieto e perigoso, faça os gestos mais calmos quanto os tais escribas mais severos, dê um largo “ciao” ao trabalho do dia, assim como quem se despede da vida, e surpreenda pouco mais tarde, com sua presença em hora tão insólita, os que estiveram em casa ocupados na limpeza dos armários, que você não sabia antes como era conduzida. Convém não responder aos olhares interrogativos, deixando crescer, por instantes, a intensa expectativa que se instala. Mas não exagere na medida e suba sem demora ao quarto, libertando aí os pés das meias e dos sapatos, tirando a roupa do corpo como se retirasse a importância das coisas, pondo-se enfim em vestes mínimas, quem sabe até em pêlo, mas sem ferir o pudor (o seu pudor, bem entendido), e aceitando ao mesmo tempo, como boa verdade provisória, toda mudança de comportamento. Feito um banhista incerto, assome depois com sua nudez no trampolim do patamar e avance dois passos como se fosse beirar um salto, silenciando de vez, embaixo, o surto abafado dos comentários. Nada de grandes lances. Desça, sem pressa, degrau por degrau, sendo tolerante com o espanto (coitados!) dos pobres familiares, que cobrem a boca com a mão enquanto se comprimem ao pé da escada. Passe por eles calado, circule pela casa toda como se andasse numa praia deserta (mas sempre com a mesma cara de louco ainda não precipitado), e se achegue depois, com cuidado e ternura, junto à rede languidamente envergada entre plantas lá no terraço. Largue-se nela como quem se larga na vida, e vá fundo nesse mergulho: cerre as abas da rede sobre os olhos e, com um impulso do pé (já não importa em que apoio), goze a fantasia de se sentir embalado pelo mundo.
Raduan Nassar no livro Menina a Caminho
Bússola, Mapa, Guia Rivera & GPS |
Livro
Água Fresca Para as Flores – Valerie Perrin. Indico porque é um livro delicioso de ler. É leve, um bom livro de praia, de férias, ou para curar ressacas literárias. É um livro sobre várias coisas, mas é também sobre recomeços. Tem uma ambientação deliciosa e personagens igualmente cativantes. É um bom impulso pra quando se está pensando em recomeçar, em ajustar a rota.
Água Fresca para as flores, de Valérie Perrin. Os dias de Violette Toussaint são marcados por confidências. Para aqueles que vão prestar homenagens aos entes queridos, a casa da zeladora do cemitério funciona também como um abrigo diante da perda, um lugar em que memórias, risadas e lágrimas se misturam a xícaras de café ou taças de vinho. Com a pequena equipe de coveiros e o padre da região, Violette forma uma família peculiar. Mas como ela chegou a esse mundo onde o trágico e o excêntrico se combinam? Com quase cinquenta anos, a zeladora coleciona fantasmas — uma infância conturbada, um marido desaparecido e feridas ainda mais profundas —, mas encontra conforto entre os rituais e as flores de seu cemitério. Sua rotina é interrompida, no entanto, pela chegada de Julien Seul, um homem que insiste em deixar as cinzas da mãe no túmulo de um completo desconhecido. Logo fica claro que essa atitude estranha está ligada ao passado difícil de Violette, e esse encontro promete desenterrar sentimentos há muito esquecidos. À medida que os laços entre os vivos e os mortos são expostos, acompanhamos a história dessa mulher que acredita de forma obstinada na felicidade, mesmo após tantas provações. Com sua comovente e poética ode ao cotidiano, Água fresca para as flores é um relato íntimo e atemporal sobre a capacidade de redenção do amor. O cenário do cemitério é um elemento importante na trama, pois representa tanto a morte quanto a vida, tanto o fim quanto o recomeço. Água Fresca para as flores é um livro tocante, e é fácil se identificar com as angústias e as alegrias dos personagens. É um livro que fala sobre a beleza e a fragilidade da existência humana, sobre coragem, sobre a importância de recomeçar.
Filmes
A Grande Cidade – 1963 – Satyajit Ray – Indico pois é um clássico do tema recomeço. É um clássico do cinema. É um filme lindíssimo, lindíssimo, não envelheceu, é super tocante. É um presente que você dá a si mesmo assistindo esse filme.
A Grande Cidade, de 1963, dirigido por Satyajit Ray, é uma obra-prima do cinema indiano que retrata a vida de uma família de classe média em Calcutá. O filme explora os temas da modernidade, da emancipação feminina, da tradição e da mudança social, através da história de Arati, uma jovem esposa e mãe que decide trabalhar fora de casa para ajudar o marido Subrata, um bancário que ganha pouco. A decisão de Arati causa conflitos com a sogra conservadora, que desaprova a ideia de uma mulher trabalhar, e com o próprio Subrata, que se sente ameaçado pela independência e pelo sucesso da esposa. Ao mesmo tempo, Arati se depara com um mundo novo e fascinante, onde conhece pessoas diferentes, como o seu chefe, que a trata com respeito e admiração, e a sua colega Edith, uma cristã anglo-indiana que sofre discriminação por causa da sua origem e religião. O filme é um retrato sensível e realista da sociedade indiana na década de 1960, mostrando as contradições e os desafios de um país em transição, que busca se modernizar sem perder a sua identidade cultural. A Grande Cidade é um filme que merece ser visto e revisto, pois oferece uma visão profunda e humana de um momento histórico e de uma cultura rica e complexa.
Mas se um filme indiano em preto e branco da década de 60 é muito pra você, indico um outro que é já é um clássico do tema também. É um filme pouco visto, eu acho, mas é fofo. Tem a Ashley Judd no primeiro papel principal dela. Ganhou o Festival de Sundance. Esse filme também inspira recomeços. O Sol do Paraíso – 1993 – Victor Nunes
O Sol do Paraíso – 1993 – Victor Nunes – é um filme independente americano de 1993, dirigido por Victor Nunez e estrelado por Ashley Judd no papel de Ruby Lee Gissing, uma jovem que após a morte da mãe foge de sua vida no Tennessee e se muda para a Flórida, em busca de novas experiências e oportunidades. O filme é baseado no livro a Abadia de Northanger, de Jane Austen, e acompanha as aventuras e desafios de Ruby em suas tentativas de recomeçar. Ruby se muda para Panama City, Flórida. Lá, ela arruma um emprego em uma loja de souvenirs, onde conhece pessoas e vive novas experiências. Em seu diário, ela registra suas impressões sobre o trabalho, o amor, o passado e o futuro. O filme acompanha um ano na vida de Ruby, mostrando suas alegrias e tristezas, seus sonhos e desafios. O filme ganhou o Grande Prêmio do Júri de longa-metragem dramático no Festival de Cinema de Sundance de 1993. Também foi indicado a seis prêmios Independent Spirit Awards, com Judd ganhando o prêmio de Melhor Atriz Principal.
Documentário
Que Bom Te Ver Viva – Lucia Murat – 1989 – Indico pois mostra o recomeçar (nem sempre tranquilo) de mulheres sobreviventes das atrocidades da ditadura. Porque às vezes não é possível recomeçar sem olhar muito bem para o passado. Porque às vezes não é possível deixar pra lá, às vezes é preciso repisar, relembrar o passado para que não ocorra mais. Precisamos ajudar este país a manter sua memória. É isso que esse documentário faz. Além de ser um belo e emocionante documentário. Todos temos que assistir, até cansar, pra recomeçar sem esquecer.
Que bom te ver viva é um documentário de 1989, dirigido por Lucia Murat, que retrata a vida de mulheres que foram presas, torturadas e exiladas durante a ditadura militar no Brasil. O filme mistura depoimentos reais de ex-presas políticas com cenas ficcionais protagonizadas pela atriz Irene Ravache, que interpreta uma personagem sobrevivente do regime que tenta reconstruir sua identidade e sua memória. O documentário é um dos primeiros a abordar o tema da violência política contra as mulheres no Brasil, e revela as marcas físicas e psicológicas deixadas pela repressão. As entrevistadas relatam suas experiências de prisão, tortura, exílio, maternidade, militância e resistência, mostrando como elas enfrentaram o medo, a dor e a morte. O filme também explora as diferenças entre as gerações que viveram o período da ditadura e as que nasceram depois, questionando o papel da memória e da história na construção da identidade nacional. Que bom te ver viva é um documentário que não se limita a denunciar os horrores da ditadura, mas que também celebra a força e a coragem das mulheres que lutaram pela liberdade e pela democracia no Brasil. O filme é uma homenagem àquelas que sobreviveram e àquelas que morreram, e um convite à reflexão sobre o passado e o presente do país.
Série
I May Destroy You – 2020 – Michaela Coel. Indico pois é uma série diferente, moderna e um tanto desconcertante. Tem um enredo poderoso e foi escrito, protagonizado e dirigido por uma jovem brilhante. Eu vi tudo muito avidamente. E sei que se encontra facilmente aí pelos meios alternativos. Recomendo muito, é bom ver séries que se passam fora dos EUA de vez em quando. É interessante ter um vislumbre de como é a vida de jovens negros na Europa. Mas principalmente é uma série muito bem feita, muito bem contada. Além de falar sobre fins e recomeços, por supuesto.
A série “I May Destroy You” é uma obra-prima da televisão moderna. Criada por Michaela Coel, a série é um retrato corajoso e honesto sobre o abuso sexual e a cultura do estupro. A história acompanha Arabella, uma escritora em ascensão que vive em Londres e que é estuprada em uma noite em que estava bêbada. A partir daí, a trama se desenrola em uma jornada emocionante de descoberta, autoconhecimento e cura. O que torna “I May Destroy You” tão especial é a forma como aborda o tema do abuso sexual. Ao invés de retratar a vítima como um objeto de pena, a série mostra Arabella como uma pessoa real, com falhas e virtudes, que está lutando para superar um trauma profundo. Ao mesmo tempo, a série também expõe as várias formas de violência sexual que existem na sociedade, desde o estupro até o assédio e a coerção. Outro aspecto marcante da série é a sua abordagem estética. Michaela Coel é uma artista completa, que não apenas escreveu e dirigiu a série, mas também compôs a trilha sonora e interpretou a protagonista. A direção de fotografia é impressionante, com cenas que alternam entre o realismo cru e o surrealismo onírico. A trilha sonora também é um destaque à parte, com músicas que vão desde o R&B contemporâneo até o jazz experimental. Além disso, “I May Destroy You” é uma série que fala sobre questões importantes da atualidade, como a cultura do cancelamento e o papel das redes sociais na nossa vida cotidiana. A história de Arabella é contada em um contexto de Londres multicultural e diverso, onde as diferenças são celebradas e não ignoradas. A série também aborda temas como amizade, relacionamentos amorosos e identidade sexual.
Radio Relógio
- Fênix. A ave Fênix é um símbolo de renascimento e imortalidade na mitologia. Segundo a lenda, essa criatura mágica tem a capacidade de se regenerar das cinzas após morrer em uma fogueira. A cada ciclo de vida, que pode durar centenas ou milhares de anos, a Fênix renasce mais forte e mais bela do que antes. A origem da mitologia da Fênix é incerta, mas há registros de que ela era cultuada por quase todos os povos da antiguidade e que o significado era quase o mesmo em todos eles; e também geralmente ela estava associada ao sol, ao fogo, à sabedoria e à esperança. A Fênix também era vista como um símbolo de ressurreição e de vitória sobre a morte. A Fênix inspirou muitas obras de arte, literatura, música e cinema ao longo da história. Ela representa a capacidade humana de superar as adversidades e se reinventar diante dos desafios. A Fênix também simboliza a busca pela perfeição e pela eternidade, bem como a beleza e a nobreza da alma.
- Sísifo e os recomeços dolorosos: Sísifo é um personagem da mitologia grega que ficou conhecido por sua tarefa eterna de empurrar uma pedra até o topo de uma montanha, apenas para vê-la rolar novamente para baixo e ter que recomeçar tudo de novo. Esse mito é frequentemente usado como uma metáfora para a vida e suas dificuldades, especialmente quando se trata de lidar com a infelicidade de ter que sempre recomeçar. A história de Sísifo é uma história sobre a luta constante contra a adversidade. Ele é um homem que foi condenado pelos deuses a realizar uma tarefa impossível, sem qualquer esperança de sucesso. No entanto, apesar de saber que sua tarefa é inútil, Sísifo continua empurrando a pedra para cima da montanha, dia após dia.
“Cada dia é uma pequena vida.” Horácio |
Post com a colaboração de @laismeralda. A melhor cartomante do pedaço, marque sua hora com ela.
2 de julho é o 183.º dia do ano no calendário gregoriano (184.º em anos bissextos). Faltam 182 dias para acabar o ano.
Se você leu até aqui, obrigada! Esse é o meu almanaque particular. Um pedaço do meu diário, da minha arca da velha, um registro de pequenas efemérides, de coisas que quero guardar, do tempo, do vento, do céu e do cheiro da chuva. Os Vestígios do Dia, meus dias. Aqui só tem referências, pois é disso que sou feita.
© Nalua – Caderninho pessoal, bauzinho de trapos coloridos, nos morros de Minas Gerais. Já no inverno, friozinho, graças aos céus. |
Esta é a 18ª de 78 páginas que terá este almanaque.
❤️❤️❤️❤️❤️❤️❤️❤️
Justamente quando estou preguiçosamente embevecido com minha mesmice, essa carta de tarô vem despertar meu poder (ADORMECIDO) de mudanças. Construí com não pouco esforço esta poderosa redoma de vidro sobre uma possível loucura de aventuras. Recomeço, mudanças, novos caminhos, tudo isso me assusta demasiado !E saber que meu mundo perfeito não existe, tudo mutável, apenas pedaços de fantasias. Se é tempo de recomeço. abrirei mão de minha total satisfação comigo mesmo, buscarei novos caminhos desde que eles me tragam para aqui onde sou e estou!!!
Que carta oportuna pra se sair logo depois do julgamento do idiota. Apesar do passado imoral que nos deixou, agora a espada cortou pro lado justo e nos dá um novo começo sem ele. Delícia estar viva pra ver isso!