falar da cor dos temporais

Belo Horizonte, 11 de junho de 2023

15° – 27°

Véspera do Dia dos Namorados, um dia depois do meu aniversário de casamento. Na semana passada eu recomecei a ler a Ilíada e por coincidência descobri que 11 de junho em 1184 a.C. é a suposta data em que Troia foi saqueada e incendiada. É o dia em que se comemora a fundação de Buenos Aires, uma cidade que amo. Em 1899 nascia Yasunari Kawabata. Em 1910 Jacques Cousteau, em 1927 aparecia Francisco Brennand, em 1937 Reginaldo Faria e em 1959 Hugh Laurie. Neste dia, em 1967 chegavam Carla Vilhena e Isabela Garcia. Em 1934 partia Vygotsky, em 1979 John Wayne. Em 2005 voltava ao holístico Juan José Saer. E em 11 de junho do ano 2000 o Rio de Janeiro não imaginava que no dia seguinte aconteceria o terrível sequestro do ônibus 174.


Esse post é para o Akio


Traz
de novo, meu amor,
a transparência da água
dá ocupação à minha ternura vadia
mergulha os teus dedos
no feitiço do meu peito
e espanta na gruta funda de mim
os animais que atormentam o meu sono.

♥️

Mia Couto


Em um dia que pode ou não ter sido 11 de junho, escreveu Emílio Renzi em seu diário:

O Primeiro Amor

Eu me apaixonei pela primeira vez aos dez anos. No meio da aula apareceu uma menina ruiva que a professora apresentou como a nova aluna. Ela estava em pé ao lado da lousa e seu nome era (ou é) Clara Schultz. Não lembro nada das semanas seguintes, mas sei que nos apaixonamos e que tentávamos esconder isso dos outros porque éramos crianças e sabíamos que queríamos uma coisa impossível. Ainda me doem certas lembranças. Quando enfileirados no pátio, os outros nos olhavam e ela ficava mais vermelha ainda e eu aprendi o que é sofrer a cumplicidade dos idiotas. Na saída eu brigava no campinho da Amenedo com os alunos mais velhos que a seguiam para jogar carrapichos no seu cabelo, porque ela o usava solto até a cintura. Uma tarde voltei para casa tão arrebentado que minha mãe pensou que eu tinha enlouquecido ou estava tomado de uma febre suicida.
Eu não podia contar para ninguém o que sentia e parecia carrancudo e humilhado, como se estivesse sempre com sono. Escrevíamos cartas um para o outro, só que mal sabíamos escrever. Lembro de uma sequência instável de êxtase e desespero; lembro que ela era séria e veemente e que nunca sorria, talvez por saber o futuro. Não guardo comigo nenhuma fotografia dela, só sua lembrança, mas em cada mulher que amei estava Clara.

Anos de formação (Os Diários de Emilio Renzi Livro 1) – Ricardo Piglia – Editora Todavia


Liniers ♥️


No dia seguinte a 11 de junho de 1939 escrevia Nelson Rodrigues uma carta à sua amada Elza:

Campos do Jordão

Elzinha, meu divino amor:

[…] Ah, querida! eu sofro ainda, ou sofro mais do que nunca, o doce mal da saudade. Só existe na terra um remédio – e que maravilhoso remédio! – para essa nostalgia que me acompanha, que me ronda, e que está impregnando todos os instantes de minha vida: é a tua presença…

[…]Diante dessa reflexão, eu estive pensando, Elza, muitos dias, se não seria melhor para tua felicidade que eu me afastasse de ti e encerrasse, de modo implacável e definitivo esse nosso romance, que é tão doce e tão triste. Amar-te sempre e aceitar o teu amor não seria o mesmo que te condenar a um destino incerto, a um futuro cheio de presságio e de angústia? Depois pensei melhor: lembrei-me do que tens sofrido e chorado; já possuis a experiência da lágrima; se a saúde do teu corpo está intacta, tua alma conheceu a dor, a dor que ilumina a consciência, que purifica o sentimento e faz a mulher digna de ser amada. Pensei também que não me cabia o direito de duvidar de ti; com o sofrimento, tua alma se redimira de toda frivolidade. Tu serias para mim uma fonte docemente imortal de amor, de consolo, de carícia.

[…] Dois beijos intermináveis do meu amor imortal.

Nelson

(quem diria que Nelson Rodrigues podia ser fofo rs)


Oráculos da Semana

Nesta semana a primeira carta que saiu foi o Três de ouros. E imediatamente pediu um complemento. Consultei a Sibila Lenormand, que entregou a carta O Buquê. Eu olhei as duas e lembrei que dia 11 é véspera do dia dos namorados, antevéspera do dia do Santo Casamenteiro. E é um dia passado do meu aniversário de 22 anos de casamento. Essa combinação 3 de ouros+buquê é a tradução da carta Dois de Copas.

O Dois de Copas fala de uma parceria amorosa. E durante essa semana é quase imperativo falar de amor, falar dos nossos pares românticos, falar de romance. Falar do amor que existe em nossas vidas.

Mas o que poderia ser mais difícil de falar do que sobre o Amor? Certamente eu não estou preparada para escrever absolutamente nada sobre esse tema. Um assunto que é o maior de toda cultura (pelo menos da cultura ocidental), sobre o qual uma parte esmagadora de nossas obras se debruçou e se debruça. Um assunto que movimenta trilhões e trilhões de dólares todos os anos. E sobre o qual ainda não existe nem consenso nem definição. Quase tudo que peguei para ler e pensar sobre o amor fala dessa dificuldade. Da impossibilidade de definir o amor. O Amor talvez seja o maior enigma da existência. E no entanto não podemos crescer sem amor. Nem individualmente, nem como sociedade.

Todo o pensamento, pelo menos desde os gregos, acha difícil e complexo definir o que é o Amor. E ainda assim qualquer um de nós sabe o que é o amor. Sente, sentiu e sentirá amor, muito embora o amor não possa de maneira alguma ser resumido a um sentimento. Num livro que uma pessoa amada me deu, a Márcia, (Tudo sobre o Amor – Bell Hooks ed. Elefante) a autora fala que amor é ação. Que amor é cuidado, é afeição, respeito, compromisso, confiança. Amor sem cuidado não é amor. E ela ainda escreve que crescer aprendendo noções falhas de amor é muito prejudicial, em vários níveis. Amor é um conceito que parece simples, mas não é. Amor também é trabalho, também é investimento e aprendizado. E por mais que achemos que amor cai do céu, amor é escolha também. Mesmo o amor materno, mesmo o amor filial. E mesmo o amor romântico. E o amor-próprio, talvez o mais difícil de aprender e que demande mais trabalho.

Essa semana somos convidados a olhar para o amor em nossa vida. O amor romântico do dia dos namorados e das parcerias, o amor próprio, que nos ensina sobre os outros tipos de amor, o amor fraterno, materno, paterno, filial. O amor dos amigos, tão salvador. Onde está o amor na sua vida?

Esses domingos de tarô nos chamam para refletirmos sobre os temas básicos da vida, e essa semana nos leva a refletir sobre esse assunto que de tão grandioso chega a ser amedrontador. Às vezes é bom sair do automático e nomear essas áreas na vida, pensar sobre elas. Tem amor sendo servido na sua mesa? Quem te ama, quem você ama? Mas principalmente a questão semanal é esta, você está sendo amado? Está amando? De verdade? Você cuida dos seus amores, para além dos cuidados indispensáveis, que você não pode evitar? Ou você se senta como um rei e espera que o destino resolva mais essa para você, afinal, aprender o amor é trabalhoso? E você exige ser apropriadamente amado? Sim, é possível exigir isso.

Diante da magnitude do tema, eu tornei a perguntar ao tarô o que ele queria de verdade que pensássemos a respeito do amor nessa semana. E me veio à cabeça um livro que li quando era ainda muito, muito jovem e que me marcou. A Arte de Amar, do Erich Fromm. Entre outras coisas, neste livro o autor defende a tese de que amar é uma habilidade. Que amar não cai do céu, que exige trabalho e é uma arte que pode ser aprimorada, como qualquer outra arte. A resposta do tarô confirmou isso, é sobre a parte artesanal do amor que precisamos pensar. Sobre o que fazemos para que amar seja uma experiência mais enriquecedora. O amor não é dado de graça nem semeado no vento, que o poeta me perdoe

Diz o monge budista Thich Nhat Hanh que “amar sem saber amar fere a pessoa que amamos”.  Se amamos sem ter desenvolvido essa habilidade vamos ferir. Aliás, como escreve também a Bell Hooks, isso nem seria amor, não há amor no descuido. Então para a semana reforçamos a pergunta: Você sabe amar e ser amado? Você tem amor, romântico ou não, suficiente? Eu realmente espero que sim, pois outro ponto em comum entre inúmeros artistas, filósofos, escritores, poetas, dramaturgos, pensadores é que o amor salva. Salva o mundo, salva a gente, salva o dia. Amor é a única salvação nossa e do mundo. Podemos encerrar com a belíssima frase da escritora Anaïs Nin:

O único transformador, o único alquimista que muda tudo em ouro, é o amor. O único antídoto contra a morte, a idade, a vida vulgar, é o amor.

Anaïs Nin 

Boa semana amores. E não se admirem se um beija-flor invadir.



A carta de Tarô 2 de Copas é uma das mais populares e significativas do baralho. Ela representa a união, o amor, a parceria e a conexão emocional profunda entre pessoas. Se você está procurando respostas sobre amor e relacionamentos, essa carta pode ser um guia valioso para você. O 2 de Copas é uma carta que fala sobre a criação de um vínculo poderoso entre pessoas. Ela simboliza o início de um relacionamento amoroso, uma amizade profunda ou uma parceria de negócios bem-sucedida. A energia dessa carta é muito positiva, trazendo uma sensação de harmonia, equilíbrio e paz interior.

Se você está solteiro e procurando um relacionamento, o 2 de Copas pode ser um sinal de que você está prestes a encontrar alguém especial. Essa carta indica que você está aberto para se conectar com outra pessoa em um nível profundo e emocional. Esteja aberto para conhecer novas pessoas e permita-se ser vulnerável. O amor pode estar mais perto do que você imagina. Se você já está em um relacionamento, o 2 de Copas é um sinal de que sua conexão com seu parceiro está se fortalecendo. Essa carta representa a harmonia e o equilíbrio em um relacionamento, bem como a capacidade de se comunicar abertamente e expressar seus sentimentos. Se você tem problemas em seu relacionamento, essa carta pode ser um sinal de que é hora de trabalhar juntos para encontrar uma solução.

O 2 de Copas também pode ser uma indicação de que você precisa se concentrar em si mesmo antes de buscar um relacionamento. Se você está passando por um momento difícil ou se sentindo emocionalmente instável, essa carta pode ser um sinal de que é hora de colocar suas próprias necessidades em primeiro lugar antes de se comprometer com outra pessoa. O 2 de Copas é uma poderosa representação do amor e da conexão emocional profunda entre duas pessoas. Se você está procurando respostas sobre amor e relacionamentos, essa carta pode ser um guia valioso para você. Esteja aberto para se conectar com outras pessoas em um nível profundo e emocional, e lembre-se sempre de colocar suas próprias necessidades em primeiro lugar antes de se comprometer com outra pessoa.

A carta do Buquê é frequentemente associada a coisas como amor, romance e felicidade no amor. Quando essa carta aparece em uma leitura, pode significar que você está prestes a encontrar o amor verdadeiro ou que seu relacionamento atual está prestes a se aprofundar. Além disso, a carta do Buquê também pode indicar um momento de felicidade e harmonia em sua vida amorosa. Isso pode significar que você e seu parceiro estão em um lugar feliz e saudável em seu relacionamento, ou que você está prestes a encontrar essa felicidade em um novo relacionamento. 

Baralho Sibila Lenormand


Um texto para quando entornamos a sorte pelo chão

Imagine, por exemplo, que você nasceu em Chicago e nunca teve a mais remota vontade de visitar Hong Kong, que para você é apenas um nome no mapa; imagine que algum acontecimento, às vezes chamado de acidente, o coloca em contato com um homem ou uma mulher que mora em Hong Kong; e que você se apaixone. Hong Kong deixará imediatamente de ser um nome e se tornará o centro de sua vida. E você pode nunca saber quantas pessoas vivem em Hong Kong. Mas você saberá que um homem ou uma mulher mora lá sem o qual você não pode viver. E é assim que nossas vidas mudam, e é assim que somos redimidos.
Que viagem é esta vida! Dependente, inteiramente, de coisas invisíveis. Se o seu amado mora em Hong Kong e não pode ir para Chicago, será necessário que você vá para Hong Kong. Talvez você passe sua vida lá e nunca mais veja Chicago. E, garanto-lhe, enquanto o espaço e o tempo o separarem de qualquer pessoa que você ame, você descobrirá muito sobre rotas marítimas, companhias aéreas, terremotos, fome, doenças e guerras. E você sempre saberá que horas são em Hong Kong, pois ama alguém que mora lá. E o amor simplesmente não terá escolha a não ser entrar em batalha com o espaço e o tempo e, além disso, vencer.

James Baldwin


Ler & Ver & Ouvir nas travessuras das noites eternas

Livros

Não ficção

Carta a D – André Grosz.  A carta de amor mais bonita de todos os tempos. Um pacto de amor e morte. Indico pois é literatura de primeira grandeza, representa um amor incrível, uma vida impressionante e uma linda morte. É curtinho, num minuto se lê.

Você está para fazer oitenta e dois anos. Encolheu seis centímetros, não pesa mais do que quarenta e cinco quilos e continua bela, graciosa e desejável. Já faz cinquenta e oito anos que vivemos juntos, e eu amo você mais do que nunca. De novo, carrego no fundo do meu peito um vazio devorador que somente o calor do seu corpo contra o meu é capaz de preencher.

Esse é o começo do livro, que coisa linda…


O livro Carta a D. de André Gorz é uma obra que aborda temas como a solidão, o amor e a morte, através de uma carta escrita pelo filósofo André Gorz à sua esposa Dorine Keir. O austro-francês André Gorz foi um dos mais influentes filósofos, jornalistas e escritores europeus do pós-guerra. A obra foi publicada em 2006, pouco antes da morte do autor. A carta começa com Gorz falando sobre a sua vida e sobre como a presença de Dorine foi fundamental para que ele pudesse superar momentos difíceis. Ele fala sobre a sua infância, sobre a sua formação como filósofo e sobre as suas lutas políticas. Gorz também fala sobre a sua relação com Dorine, destacando a importância que ela teve em sua vida. Ao longo da carta, Gorz aborda temas como a solidão e a importância do amor em nossas vidas. Ele fala sobre como a presença de Dorine foi fundamental para que ele pudesse superar momentos difíceis e sobre como o amor é capaz de nos transformar e nos fazer sentir vivos. Gorz também fala sobre a morte e sobre como ela é inevitável.

O casal André Gorz e Dorine faleceu em sua casa na cidade de Vosnon, na França, um ano após a publicação do livro. Os dois cometeram suicídio, deixando um bilhete explicando que não poderiam viver sozinhos e que um dos dois acabaria morrendo primeiro. Em “Carta a D.”, Gorz escreveu que o amor impossível e naufragado é o que rende a nobre literatura, em contraste com o amor comum e privado. O destino trágico do casal feliz em vida tornou-se literário.Ele reflete sobre o seu próprio fim e sobre como gostaria de ser lembrado pelas pessoas que o conheceram. Gorz destaca a importância de vivermos o momento presente e de aproveitarmos cada instante da vida.

Ao final da carta, Gorz se despede de Dorine, deixando claro o quanto ela foi importante em sua vida. Ele destaca que o amor que eles compartilharam foi algo único e que sempre irá acompanhá-lo, mesmo após a sua morte.


Ficção

O Quarto de Giovanni –  James Baldwin. Aqui vou colocar um livro que eu ainda quero ler. O Quarto de Giovani, de James Baldwin. Indico a mim mesma, e talvez seja minha leitura da semana, para refletir sobre tudo isso que falamos aqui. Eu sei que se trata de uma belíssima história de amor. E é um livro de James Baldwin, alguém que admiro demais. Para mim, é leitura obrigatória, incontornável, indispensável e é daqueles livro que eu tenho certeza que vou gostar. Se alguém já leu e quiser comentar, por favor.


O Quarto de Giovanni é um romance escrito pelo autor James Baldwin, publicado originalmente em 1956. A história é narrada por David, um jovem americano que se muda para Paris para escapar das expectativas e pressões sociais que enfrenta em seu país natal. Lá, ele conhece Giovanni, um homem italiano por quem se apaixona profundamente. A obra de Baldwin é uma reflexão sobre a homossexualidade e a busca pela identidade e aceitação em uma sociedade que ainda não compreendia a diversidade sexual. O livro é uma obra-prima da literatura queer, que explora temas como a solidão, a sexualidade reprimida e a luta pela aceitação. O romance é ambientado em Paris, na década de 1950, e apresenta um retrato vívido da cidade na época. Baldwin utiliza a cidade como um cenário para explorar as complexidades da vida urbana e as tensões raciais e sexuais que permeiam a sociedade. O personagem central do livro, David, é um jovem americano que se sente deslocado em sua própria cultura. Ele se muda para Paris em busca de uma vida mais autêntica e livre, mas acaba se apaixonando por Giovanni, um homem italiano que trabalha em um bar. O relacionamento entre David e Giovanni é intenso e apaixonado, mas também é marcado por tensões e conflitos. David luta contra seus próprios sentimentos e contra a pressão social para se conformar às normas heterossexuais da época. Giovanni, por sua vez, é um homem atormentado por seus próprios demônios internos, incluindo a solidão e o medo do abandono.

A narrativa de Baldwin é envolvente e emocionante, levando o leitor a uma jornada através dos pensamentos e emoções dos personagens. O autor utiliza uma linguagem poética e intensa para descrever as emoções e os sentimentos dos personagens, criando uma atmosfera de tensão e paixão. O livro também aborda temas importantes como a homofobia, a intolerância e a violência contra pessoas LGBT. Baldwin apresenta uma visão realista e crua da vida de homens gays na década de 1950, mostrando como a sociedade os tratava com desprezo e violência.

 


Filmes

Trilogia do Antes – Richard Linklater – 1995, 2004 e 2013

Antes do Amanhecer – Antes do Por do Sol – Antes da Meia Noite Indico por que é a História de Amor que eu mais amo nas telas. Quando o primeiro filme foi lançado eu tinha a idade dos protagonistas e a minha vida foi passando junto com a deles. E é uma série linda, os 3 filmes são maravilhosos, são os filmes que nunca canso de ver. Assistam, são filmes de uma delicadeza sem fim.


Tem spoiler

A trilogia do Antes, dirigida por Richard Linklater, é uma das mais aclamadas da história do cinema. Composta pelos filmes “Antes do Amanhecer” (1995), “Antes do Pôr do Sol” (2004) e “Antes da Meia-Noite” (2013), a trilogia acompanha a história de amor de Jesse (Ethan Hawke) e Celine (Julie Delpy) ao longo de quase 20 anos. O primeiro filme, “Antes do Amanhecer”, foi lançado em 1995 e conta a história de Jesse e Celine, que se conhecem em um trem que parte de Budapeste em direção a Viena. Eles começam a conversar e decidem passar o dia juntos em Viena antes de Jesse pegar seu avião de volta para os Estados Unidos. Durante o dia, eles passeiam pela cidade, conversam sobre suas vidas e se apaixonam. No final do dia, eles prometem se encontrar novamente seis meses depois na mesma estação de trem. Nove anos depois, em 2004, foi lançado “Antes do Pôr do Sol”. O filme começa mostrando Jesse em uma livraria em Paris, onde está fazendo a divulgação de seu livro. Celine aparece na livraria e eles decidem passar a tarde juntos, relembrando o dia que passaram juntos em Viena nove anos antes. Durante o filme, eles conversam sobre suas vidas nos últimos anos e sobre o que poderia ter acontecido se tivessem se encontrado seis meses depois em Viena, como haviam combinado. O filme termina com uma cena emocionante, na qual Jesse tem que decidir se fica em Paris com Celine ou volta para os Estados Unidos para ficar com seu filho. O terceiro filme da trilogia, “Antes da Meia-Noite”, foi lançado em 2013 e mostra Jesse e Celine nove anos depois de “Antes do Pôr do Sol”. Eles estão agora em uma viagem pela Grécia com suas duas filhas gêmeas. Durante o filme, vemos que a vida deles mudou bastante desde o último encontro. Eles discutem sobre suas carreiras, sobre a criação das filhas e sobre o futuro da relação deles. A tensão entre eles aumenta ao longo do filme e culmina em uma discussão acalorada, na qual eles questionam se ainda se amam e se ainda querem ficar juntos.

O que torna a trilogia do Antes tão especial é a maneira como ela retrata a vida real. Os filmes são quase que inteiramente compostos por diálogos entre Jesse e Celine, mostrando como as conversas podem ser profundas e reveladoras. Além disso, a trilogia é filmada em tempo real, ou seja, cada filme foi gravado no período de tempo que ele retrata (um dia para “Antes do Amanhecer”, uma tarde para “Antes do Pôr do Sol” e um dia para “Antes da Meia-Noite”). Isso faz com que os filmes pareçam ainda mais reais e nos faz sentir como se estivéssemos acompanhando a vida de Jesse e Celine ao longo dos anos. Outro ponto forte dos filmes é a atuação de Ethan Hawke e Julie Delpy. Eles conseguem transmitir toda a complexidade dos personagens, mostrando como eles mudaram ao longo dos anos e como a relação entre eles evoluiu. A química entre os dois atores é incrível e faz com que o espectador torça pelo casal desde o primeiro filme.


Documentário

Secreto e proibido – Chris Bolan – 2020. Indico pois é um documentário sobre amor, mas é também, ao fundo, sobre história, a história do amor no século 20. É também sobre como sempre é tempo de sermos livres, mesmo aos 80 e tantos anos. É um documentário delicado, bonito, e que também nos deixa perplexo com a hipocrisia em que vivemos afundados. 


O documentário “Secreto e Proibido”, disponível na Netflix, conta a história de Terry Donahue e Pat Henschel, um casal de lésbicas que viveu juntas por mais de 60 anos em segredo. O filme é uma emocionante e comovente história de amor que mostra a luta das duas mulheres para manterem sua relação em segredo em uma época em que a homossexualidade era considerada crime nos Estados Unidos. O documentário começa com imagens de Terry e Pat em sua casa em Chicago, onde elas vivem juntas desde a década de 1950. As duas se conheceram quando jogavam beisebol profissionalmente e se apaixonaram. No entanto, naquela época, ser homossexual era considerado ilegal e imoral, e as duas precisaram manter sua relação em segredo. O filme mostra como Terry e Pat conseguiram construir uma vida juntas, apesar dos desafios que enfrentaram. Elas se mudaram para a cidade de Nova York, onde Terry trabalhou como enfermeira e Pat como secretária, e conseguiram manter sua relação em segredo até mesmo de suas famílias. “Secreto e proibido” é um documentário emocionante que mostra como o amor pode superar dificuldades. O documentário foi rodado entre 2013 e 2018, antes da morte de Terry em 2019, aos 93 anos. Ela foi diagnosticada com a doença de Parkinson, logo depois do momento casal decidiu se revelar para sua família.O filme é uma homenagem à coragem e à determinação de Terry e Pat, que lutaram por sua felicidade em uma época em que ser homossexual era considerado um crime.


Série

Sense 8 – 2015 – Lilly e Lana Wachowski. Uma série linda, moderna, colorida e cheia de amor. Assistam. Eu fiquei orfã dos personagens quando acabou. Quero rever já. É uma ode à tolerância. 


Sense 8 é uma série de televisão americana que foi produzida pela Netflix e criada pelas irmãs Wachowski, conhecidas por serem as diretoras da trilogia Matrix. A série foi lançada em 2015 e teve duas temporadas, com um total de 24 episódios. A história gira em torno de oito pessoas que estão conectadas mentalmente, mesmo estando em diferentes partes do mundo. Eles são chamados de “sensates” e possuem habilidades especiais, como telepatia, compartilhamento de habilidades físicas e emocionais, além de uma forte conexão emocional entre si. Os protagonistas são Nomi, Will, Riley, Capheus, Sun, Lito, Kala e Wolfgang. Cada um deles tem sua própria história e personalidade, mas todos estão ligados por um mesmo objetivo: proteger uns aos outros e descobrir o que está acontecendo com eles. Ao longo da série, eles descobrem que fazem parte de um projeto secreto do governo chamado “BPO”, que quer controlar e exterminar os sensates. Além disso, eles precisam lidar com seus próprios problemas pessoais e enfrentar seus medos.

Sense 8 é uma série que aborda temas como diversidade, inclusão, amor e amizade. Os personagens são muito bem desenvolvidos e possuem histórias cativantes e emocionantes. A fotografia é incrível e as cenas de ação são muito bem coreografadas. Infelizmente, a série foi cancelada após a segunda temporada, o que deixou muitos fãs desapontados. No entanto, em 2018, a Netflix lançou um episódio especial de duas horas para encerrar a história dos sensates de forma satisfatória.


Poesia

Os três mal amados, de João Cabral de Melo Neto. Uau, que poesia. Leiam, é maravilhosa. 

Ouçam com o maravilhoso Cordel do Fogo Encantado


Ah, e leiam a Ilíada, um imenso livro que também é sobre o amor. E sobre o luto.

Que ao fim e ao cabo é o preço do amor.


 


11 de junho é o 162.º dia do ano no calendário gregoriano (163.º em anos bissextos). Faltam 203 dias para acabar o ano.


Post com a colaboração de @tariqmusashi e @laismeralda


“Ser profundamente amado por alguém nos dá força; amar alguém profundamente nos dá coragem”.

Lao-Tse

Se você leu até aqui, obrigada! Esse é o meu almanaque particular. Um pedaço do meu diário, da minha arca de referências, um registro de pequenas efemérides, de coisas que quero guardar, do tempo, do vento, do céu e do cheiro da chuva. Os Vestígios do Dia, meus dias.

© Nalua – Caderninho pessoal, bauzinho de trapos coloridos, nos morros de Minas Gerais. Outono, tempo fresco, graças aos céus.