Mês: setembro 2023

uma saideira, muita saudade

Belo Horizonte, 17 de setembro de 2023

Previsão do Tempo: ele está passando…


17 de setembro é o dia Dia da Compreensão Mundial. O que será que significa isso heim? Em 1787 a Constituição americana foi assinada. Em 1849 Harriet Tubman escapa pela primeira vez da escravidão em Maryland. Em 1954 o Senhor das Moscas de William Goldwin foi publicado. Em 1964 estreava o seriado A Feiticeira e todas as meninas queriam saber fazer aqule gesto com o nariz.  Em 2011 começou o movimento Occupy Wall Street e eu não fui. Em 1931 nasceu Anne Bancroft. Em 1955 Marina Lima, em 1962 Fátima Bernardes e Baz Luhrmann. Em 1979 nasceu Negra Li. Em 1179 morreu a incrível Hildegarda de Bingen. Em 1948 foi a vez de Ruth Benedict e em 1994 nos deixa Karl Popper.


Ainda outro disse: “Vou seguir-te, Senhor, mas deixa-me primeiro voltar e despedir-me da minha família”. Jesus respondeu: “Ninguém que põe a mão no arado e olha para trás é apto para o Reino de Deus”.

Evangelho de Lucas 9:61-62


Este post é para Márcia e Karina


POEMA DA DESPEDIDA

Não saberei nunca dizer adeus

Afinal, só os mortos sabem morrer

Resta ainda tudo, só nós não podemos ser

Talvez o amor, neste tempo,
seja ainda cedo

Não é este sossego que eu queria,
este exílio de tudo, esta solidão de todos

Agora não resta de mim o que seja meu e quando tento
o magro invento de um sonho todo o inferno me vem à boca

Nenhuma palavra alcança o mundo, eu sei
Ainda assim, escrevo.

♥️

Mia Couto


Neste dia, há 3 anos, escreveu uma refugiada venezuelana em seu diário

17 de setembro de 2020

Hoje recebí uma ligação de um amigo que conhecí em Boa Vista. As coisas não foram bem para ele no Brasil e decidiu voltar para a Venezuela. Ele me conta coisas que meus pais não me dizem sobre a situação do país. Me comenta que o que eu vejo na televisão e pelas redes sociais é pouco comparado com o que se enfrentam dia a dia. Isso me entristece. De onde estou, só posso apoiar aos que estão aqui na ONG com a qual trabalho. Eles começaram uma campanha para entregar cestas básicas a imigrantes e brasileiros mais vulneráveis. É um trabalho que esgota, mas vale a pena. É toda uma família que se salva da fome. Neste momento a solidariedade do brasileiro com o próximo é o que me faz querer trazer meus filhos para cá. Quero que aprendam essa lição de humanidade e que entendam que esses pequenos gestos são o que engrandecem um país.

Francis Salazar, na Falha de São Paulo


 Um Oráculo em Pasárgada

Para esta semana saiu o Oito de Copas. É hora de partir, vamos chamar os caminhões de mudança. O 8 de copas é a carta que nos lembra que de tempos em tempos temos que abandonar alguma coisa. Que temos lidar com partidas, desapegos e desprendimentos. Precisamos sair de algum lugar, abandonar alguma situação, algum pensamento, comportamento, ou alguém. É carta que nos fala do desprendimento. Da importância de deixarmos algo para trás.

Em geral quando esta carta aparece, estamos lidando com qualquer coisa que está nos fazendo mal, com um lugar que não nos cabe mais, uma situação que está ficando insustentável. É a carta do ir embora. Chegamos num ponto em que precisamos nos conscientizar e seguir a vida.

Vivemos numa época em que o desapego é um conceito celebrado e reverenciado. Existe todo um mundo que gira em torno do desapego, é uma palavra que está bastante na moda. Desapegar-se. Em geral se fala de um desapego material, destralhar a casa, livrar-se de objetos, viver uma vida mais minimalista, consumir menos etc.

Mas o 8 de copas trata de um outro desapego. É um desprendimento mais profundo, mais impactante, é o desapego de situações, de pensamentos, até de partes do ser. Pense no que você precisa abandonar. Do que você precisa desprender-se, o que é preciso deixar. Você precisa partir de que lugar, ou de que situação?  Ou você quer muito, de verdade, partir? É mais comum não precisarmos deixar nada de concreto, e nos darmos conta de que precisamos apenas abandonar uma velha forma de pensamento aprisionante. Especialmente quando já não somos mais jovens, achamos que nós somos o nosso pensamento, e que mudar ou abandonar qualquer um deles é uma mutilação. Mas bem pode ser disso que precisamos nos livrar, de pensamentos e cosmovisões velhos, que não fazem mais sentido. Nos livrarmos disso não é mutilação, é liberdade.

O mundo atual é uma excelente fonte de pensamentos novos, tem milhões de mudanças de paradigmas ocorrendo numa velocidade alucinante, e indo cada vez mais adiante. A cada dia fica mais fácil ficarmos para trás, perdermos o bonde, se não assimilarmos novos modelos e novas formas de pensar. Não somos o que aprendemos aos 19 anos. Muitas pessoas param de refletir entre os 20 e os 30 anos. Se você tem 50 anos, as ferramentas do mundo em que você tinha 20 anos simplesmente não servem mais… As fichas de telefone não servem para o celular.

Também o 8 de copas nos ensina o desprendimento. Para o frade filósofo Mestre Eckhart (1260 – 1328), desprender-se é condição imprescindível para que encontremos o divino, para que possa existir um encontro verdadeiro com o transcendente. Para esse pensador não se trata do desprendimento estoico do mundo, em que as ferramentas seculares ficam com pouca utilidade, sendo conveniente abandoná-las. Para ele, é um desprendimento de si, de seu modo de ser, para ser atravessado pela luz de Deus. Mas isso tudo terrenamente, entendendo o sofrimento e peculiaridades do mundo e do cotidiano. Não somos monges, nem filósofos ou religiosos, mas também nós queremos experimentar um pouco dessa nesga de transcendência, esse é um dos lembretes do arcano da semana.

E desprender-se, abandonar, abre essa fenda para que por um momento, a luz nos atravesse. Se estamos deixando realmente uma situação que não nos cabe mais, ou se estamos substituindo nosso pensamento ou nossas convicções por outros que façam mais sentido, certamente alguma luz nos atravessará, divina ou mundana.

Essa carta tem o potencial de algo novo com o qual você se conectará e com o qual se sentirá bem. Talvez seja essa centelha que experimentará de forma inesquecível. Mas primeiro vem a tristeza de ir embora.

Essa carta também nos fala sobre a coragem de que precisamos para partir, para nos desprendermos. Nunca é fácil. É sempre preciso uma grande dose de paciência e de força interna, e isso é da ordem da obviedade. Mas o tarô também é pensar no óbvio de que não nos lembramos. Partir é igualmente um movimento. Estamos sempre falando aqui sobre isso, andar, mudar, começar, agir, recomeçar, aventurar-se. O tarô é o livro da vida. E vida é movimento, só existe o ser em movimento, só existe vida no movimentar. Muitas vezes ficar, permanecer em algo que está apodrecendo é morrer também, seja em uma situação, um pensamento, uma visão sobre o mundo. Então, para a semana, vamos partir, abandonar, nos desprendermos. Vamos amadurecendo aos poucos a partida, quando a flor abrir inteira, mudemos de vida. Vamos embora. Não ligue se acaso eu chorar. 

Boa semana para quem parte.

Oito de Copas

A carta de tarô 8 de copas representa a necessidade de partir, de deixar para trás algo que não serve mais. Essa carta é uma mensagem clara de que é hora de seguir em frente, de buscar novos caminhos e novas oportunidades. O número 8 é um símbolo de equilíbrio e harmonia, mas também pode representar a busca por algo novo e desconhecido. As copas, por sua vez, são o naipe do amor, das emoções e dos relacionamentos. Juntas, essas duas energias formam uma mensagem poderosa: é hora de deixar para trás o que não nos faz mais feliz e buscar novas formas de amor e conexão. O 8 de copas pode aparecer em uma leitura quando estamos presos em um relacionamento que não está mais funcionando, ou quando estamos em um emprego ou situação que não nos satisfaz. Ela nos lembra que a vida é curta e que devemos buscar a felicidade enquanto ainda podemos. Partir pode ser assustador, mas também pode ser libertador. Quando deixamos para trás o que não nos serve mais, abrimos espaço para novas experiências e oportunidades. A carta de tarô 8 de copas nos encoraja a seguir em frente com coragem e determinação, confiando que o universo nos guiará para onde precisamos ir.

Se você está se sentindo preso ou insatisfeito em alguma área da sua vida, a carta de tarô 8 de copas pode ser um sinal de que é hora de partir. Não tenha medo de deixar para trás o que não está funcionando e buscar algo melhor. Lembre-se de que a vida é curta e que você merece ser feliz. A carta de tarô 8 de copas representa a necessidade de partir, deixar para trás o que não nos faz mais feliz e buscar novas formas de amor e conexão. Ela nos encoraja a seguir em frente com coragem e determinação, confiando que o universo nos guiará para onde precisamos ir. Se você está se sentindo preso ou insatisfeito em alguma área da sua vida, não tenha medo de partir e buscar algo melhor.


Um texto que reorganiza as malas

De: Amélia de Leuchtenberg
Para: Dom Pedro II

Em 1831, em meio a forte crise política, dom Pedro I abdicou em favor de Pedro de Alcântara, então com seis anos de idade, filho de seu primeiro casamento com dona Leopoldina. Foi obrigado a deixar o Brasil com a segunda mulher, dona Amélia de Leuchtenberg, e, na madrugada de 7 de abril daquele ano, noite da partida, ela, que estava com 19 anos e amava os enteados, deixou esta carta ao menino e futuro imperador dom Pedro II.

Rio de Janeiro, 
Meu filho do coração e meu imperador,

Adeus, menino querido, delícias de minha alma, alegria de meus olhos, filho que meu coração tinha adotado. Adeus para sempre. Quanto és formoso nesse teu repouso! Meus olhos choro­sos não se puderam furtar de te contemplar! A majestade de uma coroa, a debilidade da infância, a inocência dos anjos cingem tua fronte de um resplendor misterioso que fascina. És o espetáculo mais tocante que a terra pode oferecer! Quanta grandeza e quanta fraqueza a humanidade encerra, representadas por ti, criança idolatrada: uma coroa, um trono e um berço!

A púrpura ainda não serve senão para estofo, e tu, que comandas exércitos e reges um Império, ainda careces de todos os desvelos e carinhos de mãe. Ah! querido menino, se eu fosse tua verdadeira mãe, se meu ventre te tivesse concebido, nenhuma força te arran­caria dos meus braços! Mas tu, anjo de inocência e de formosura, não me perten­ces senão pelo amor que dediquei a teu augusto pai. Ape­nas sou tua madrasta, embora te queira como se fosses o sangue do meu sangue. Um dever sagrado me obriga a acompanhar o ex-imperador no seu exílio, através os mares, em terras estranhas… Adeus, pois, para sempre! Mães brasileiras, vós que sois meigas e carinhosas para com vossos filhinhos, supri minhas vezes: adotai o órfão coroado, dai-lhe, todas vós, um lugar na vossa família e no vosso coração.

Mães brasileiras, eu vos confio este preciosíssimo penhor da felicidade de vosso país e de vosso povo: ei-lo tão belo e puro como o primogênito de Eva no Paraíso. Eu vo-lo entrego: agora sinto minhas lágrimas correrem com menor amargura. Dorme criança querida, enquanto nós, teu pai e tua mãe de adoção, partimos para o exílio, sem esperança de nunca mais te vermos… senão em sonhos. Brasileiros! Eu vos conjuro que o não acordeis antes que me retire.

Adeus, órfão-imperador, vítima de tua grandeza antes que a saibas conhecer. Adeus…

Carlos Sarthou. Relíquias da cidade do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Gráfica Olímpica Editora, 1961, pp. 111-112.

(Retirado de https://correio.ims.com.br/carta/uma-coroa-um-trono-e-um-berco/) 

As Várias Formas de Partir

Procurei escolher algumas obras que falassem de várias formas de partidas e abandonos. Como também é um tema que tem um leque incomensurável de filmes, livros, músicas etc, poderia fazer 3, 4 posts e teria coisa suficiente para mostrar, escolhi algumas que não fossem tão imediatamente lembradas, mas que eu tivesse gostado muito. Aí vão elas, todas muito queridas para mim, em todas eu me diverti muito.

Livro

Intimidade – Hanifi Kureishi. Indico porque a Maria Fernanda tinha me indicado esse autor. E porque pensei em divórcio como uma forma de abandonar, partir, sair de situação que não te cabe mais. E esse livro foi recomendado pela escritora do livro Farmácia Literária. Como é bem pequeno, me aventurei a ler. E é muito, muito bom. É o relato do personagem que decide se divorciar e o que se passa na cabeça dele quando toma a decisão. e tudo que acontece imediatamente depois. É uma leitura ótima, o livro é muito envolvente e a escrita é deliciosa. Tem mais livros que tratam do assunto e estão mais em alta, como os da Elena Ferrante, do Domeninco Starnoni, etc, mas preferi este pois o autor anda meio fora das rodas literárias atuais.


Intimidade, escrito por Hanifi Kureishi, é um livro que aborda temas como amor, relacionamentos, traição e a busca pela identidade. A obra narra a história de Jay, um escritor de meia-idade que vive em Londres e está passando por uma crise em seu casamento. Jay está prestes a publicar seu novo livro e, ao mesmo tempo, enfrenta problemas em seu relacionamento com Susan, sua esposa. A partir daí, o autor nos leva a uma jornada de reflexão sobre as escolhas que fazemos em nossas vidas e como elas afetam as pessoas ao nosso redor. A narrativa é envolvente e fluída, fazendo com que o leitor se identifique com os personagens e suas angústias. Kureishi aborda temas complexos de forma sensível e honesta, sem julgamentos ou estereótipos. Além disso, o livro também trata da questão da identidade cultural. Jay é filho de um paquistanês e uma inglesa e, ao longo da história, ele reflete sobre sua herança cultural e como isso influencia em sua vida pessoal e profissional.


Filme

As Horas – Stephen Daldry – 2003. Um dos filmes que eu mais gosto. Retrata vários tipos de partida, é um 8 de copas na essência, toca até mesmo na grande partida que é o suicídio. E além disso é uma pequena obra prima. Tem 3 atrizes incríveis, é bem feito, que filme! Indico entusiasmadamente. Até hoje eu ainda penso muito nele, é uma referência tremenda para mim. Eu gostaria de saber falar mais sobre ele, porque é uma lindeza de filme, mas não sei. Faço intenção de que vocês se animem a assistir.


O filme “As Horas”, dirigido por Stephen Daldry, é uma obra cinematográfica que retrata a vida de três mulheres em diferentes épocas e como elas lidam com a questão da morte. O filme é baseado no livro homônimo de Michael Cunningham, que por sua vez é inspirado na obra “Mrs. Dalloway”, de Virginia Woolf. A história se desenrola em três momentos distintos: em 1923, quando Virginia Woolf (interpretada por Nicole Kidman) está escrevendo o livro “Mrs. Dalloway”; em 1951, quando Laura Brown (interpretada por Julianne Moore) está lendo o livro e planejando seu suicídio; e em 2001, quando Clarissa Vaughan (interpretada por Meryl Streep) está organizando uma festa em homenagem a seu amigo Richard (interpretado por Ed Harris), um escritor que está morrendo de AIDS. O filme é uma reflexão sobre a vida e a morte, sobre a busca pela felicidade e sobre como as escolhas que fazemos podem afetar nossas vidas e as vidas daqueles ao nosso redor. As três personagens principais são mulheres fortes e independentes, mas que enfrentam seus próprios demônios interiores.

Virginia Woolf é uma escritora atormentada pela depressão e pela pressão da sociedade para se conformar aos padrões de gênero da época. Laura Brown é uma dona de casa infeliz que se sente presa em um casamento sem amor e que busca desesperadamente uma forma de escapar. Clarissa Vaughan é uma editora bem-sucedida que tem um relacionamento complicado com Richard e que luta para conciliar sua vida pessoal com sua carreira.

O filme é um retrato sensível e emocionante dessas mulheres e de como elas enfrentam a partida em suas próprias vidas. A atuação das três atrizes principais é excepcional, especialmente a de Nicole Kidman, que ganhou o Oscar de Melhor Atriz por sua interpretação de Virginia Woolf.


Quadrinhos

O melhor que poderíamos fazer – Thi Bui – Indico porque fala de refugiados, dos que partem porque não têm mais alternativa. É uma HQ muito comovente, que conta uma história real e dilacerante. O traço é bem bonito, a narrativa sensível e tocante. O tema da imigração sempre me interessou, é um assunto que chama demais a minha atenção. Eu li há algum tempo, quando ainda trabalhava com acolhimento de imigrantes. As histórias de imigrantes são sempre muito ricas, muito cheias de cor, e de dor também.


A graphic novel “O Melhor que Poderíamos Fazer” de Thi Bui é uma obra emocionante e poderosa que narra a história da família da autora, que fugiu do Vietnã durante a Guerra do Vietnã em busca de uma vida melhor. O livro é uma mistura de memórias pessoais, história e política, e é contado através de belas ilustrações e um texto cuidadosamente escrito. A história começa com a própria Thi Bui, que é uma mãe de primeira viagem, refletindo sobre sua própria infância e a história de sua família. Ela conta a história de seus pais, que cresceram em vilarejos pequenos e pobres no Vietnã antes de se mudarem para Saigon, onde seu pai se tornou um arquiteto bem-sucedido. Mas a Guerra do Vietnã mudou tudo, e a família foi forçada a fugir para os Estados Unidos. A história de é contada através de várias vozes, incluindo a dela própria, seus pais e seus irmãos. Ela explora as complexidades da vida de imigrantes nos Estados Unidos, incluindo o choque cultural, a discriminação e a dificuldade de se adaptar a um novo país. Ela também explora as tensões dentro da própria família, incluindo as diferenças entre ela e seus irmãos, bem como as tensões entre seus pais. O livro é uma meditação sobre a natureza da identidade e do pertencimento, e sobre como as experiências de nossos pais e avós podem moldar nossas próprias vidas. É também uma reflexão sobre a natureza da memória e como ela pode ser mutável e imprecisa.  Acima de tudo, “O Melhor que Poderíamos Fazer” é uma história sobre amor e família. É uma homenagem aos sacrifícios que os pais fazem por seus filhos, e à resiliência humana em face da adversidade. É um livro que emociona qualquer pessoa que já tenha amado alguém ou tenha sido amado.


Série

Ventos de Água – Juan José Campanella – 2006. Indico porque é uma série não muito conhecida, pouco falada, mas é uma delícia de assistir. Bonita, bem filmada, dirigida pelo Campanella de O Segredo dos Seus Olhos e de O Filho da Noiva. É uma saga familiar, e eu adoro sagas familiares. Conta a história da imigração de ida e volta de espanhois para  a Argentina e da volta dos argentinos para a Espanha. Se passa em tempos diferentes e acomapnhamos em dois turnos as gerações da mesma família lutando com as agruras e venturas de partir para uma terra distante e muitas vezes hostil. A história é gostosa de acompanhar, bem feita. Vale assistir, tem poucos capítulos e está na Netflix. 


A série Ventos de Água, do diretor argentino Juan José Campanella, acompanha a vida de dois imigrantes, um espanhol que foge da Guerra Civil para a Argentina em 1938, e seu filho, que faz o caminho inverso em 2001, após a crise econômica que abalou o país. Através de flashbacks e saltos temporais, a série mostra as semelhanças e diferenças entre as duas épocas, os desafios e as oportunidades que os protagonistas encontram em suas novas pátrias, e as relações familiares, amorosas e sociais que se estabelecem ao longo dos anos. É uma série que passa por vários perídos históricos, como os anos 30 no Norte da Espanha, marcado por péssimas condições de trabalho dos mineiros de carvão. A Guerra Civil Espanhola e a proximidade do generalíssimo Franco com Hitler e o nazismo que  só agravavam a situação. Nesse contexto, muitos europeus pré-Segunda Guerra Mundial imigraram para as Américas, incluindo Buenos Aires, que se tornou um destino popular para imigrantes de várias partes do mundo, incluindo a formação da colônia judaica na Argentina, uma das maiores do mundo. Passa pelas décadas de 40 e 50, marcadas pelo peronismo e anti-peronismo na Argentina, enquanto a revolução cubana de 1959 é vista de longe, chegando até a crise econômica dos anos 2000 e o congelamento das contas correntes e de poupança – o corralito. Também retrata a imigração de pessoas de países do Terceiro Mundo para a União Européia que gerou forte rejeição aos imigrantes na Espanha. Muitos vivendo sob o signo do medo da deportação de estrangeiros ilegais. A história desses eventos é complexa e multifacetada, mas evidencia a importância da imigração e dos movimentos políticos em moldar a história e o futuro dessas regiões, e a série consegue mostar esses períodos todos e os impactos humanos destes acontecimentos.


Documentário

 

TFH – Aeroporto Central – Karin Aïnouz – 2019. Indico porque é um documentário interessantíssimo e necessário para se entender um pouco mais sobre os refugiados. E porque os aeroportos são lugares por excelência de partidas, embora, ou por isso mesmo na verdade, seja não-lugares. Pensei também na série nacional Chegadas e Partidas, que tem episódios muito emocionantes. Pode ser uma boa distração também. 


Documentário do cineasta cearense Karim Aïnouz resgata a importância do extinto Aeroporto de Tempelhof, em Berlim. Entre 2015 e 2019, o local teve seus hangares usados como abrigos de emergência para refugiados que buscavam asilo. É neste cenário que o espectador acompanha Ibrahim, estudante sírio de 18 anos, e o fisioterapeuta iraquiano Qutaiba. O documentário recebeu o Troféu Anistia Internacional, no Festival de Berlim em 2018.



Partir é morrer um pouco. Morrer é partir demais.

Millôr Fernandes

Post com a colaboração de @laismeralda, que é a melhor cartomante do pedaço, marque sua consulta com ela.


17 de setembro é o 260.º dia do ano no calendário gregoriano (261.º em anos bissextos). Faltam 105 dias para acabar o ano.


Se você leu até aqui, obrigada! Esse é o meu almanaque particular. Um pedaço do meu diário, da minha arca da velha, um registro de pequenas efemérides, de coisas que quero guardar, do tempo, do vento, do céu e do cheiro da chuva. Os Vestígios do Dia, meus dias. Aqui só tem referências, pois é disso que sou feita.

© Nalua – Caderninho pessoal, bauzinho de trapos coloridos, nos morros de Minas Gerais. Inverno quase no fim, mas um calorão do capeta.

Esta é a 27ª de 78 páginas que terá este almanaque.