Mês: fevereiro 2024

uma sala que está vazia
Aviso: post gigante.

Belo Horizonte, 04 de fevereiro de 2024

🌩20º – 30° 


04 de fevereiro é o dia Mundial de Combate ao Câncer. É Dia Internacional da Fraternidade Humana. No ano de 1703, em Em Edo (atual Tóquio), 46 dos quarenta e sete rōnin cometeram seppuku para vingar a morte de seu mestre. Em 2003 a Iugoslávia deixou de existir e virou oficialmente Sérvia e Montenegro. Em 2004 o Facebook foi fundado por vocês-sabem-quem. Em 1799 nasceu Almeida Garrett, que escreveu um dos versos mais bonitos da língua portuguesa. Em 1913 veio a super corajosa Rosa Parks. Em 1956 nasce um dos melhores brasileiros, Zeca Pagodinho. Em 1968 nos deixou Neal Cassady. Em 1983 o mundo ficou menos melódico com a partida de Karen Carpenter. Em 1995 se foi Patricia Highsmith deixando o mundo menos misterioso. E para o Brasil, em 2004 a partida de Hilda Hilst foi uma perda terrível, irreparável.


Soneto do amigo 

Enfim, depois de tanto erro passado
Tantas retaliações, tanto perigo
Eis que ressurge noutro o velho amigo
Nunca perdido, sempre reencontrado.

É bom sentá-lo novamente ao lado
Com olhos que contêm o olhar antigo
Sempre comigo um pouco atribulado
E como sempre singular comigo.

Um bicho igual a mim, simples e humano
Sabendo se mover e comover
E a disfarçar com o meu próprio engano.

O amigo: um ser que a vida não explica
Que só se vai ao ver outro nascer
E o espelho de minha alma multiplica…

❤️

Vinicius de Moraes


Há exatos 40 anos, Al Berto escrevia em seu diário a seguinte entrada:

4 fev. 1984 / sábado

ressano garcía / Lisboa

Alguém, um desconhecido virá ao meu encontro na rua, um dia, e dirá: Conheço-te, sou a tua imagem abandonada, uma noite, dentro do espelho ao fundo dum sonho…
Eu ficarei a olhar-me no seu rosto igual ao meu, sem saber por onde fugir-me.

Fui à Sociedade N. de Belas Artes, e no caminho ocorreu-me o que acima registo. Na Sociedade vi a Exposição de 25 jovens Pintores Alemães. Experiências espantosas de alguns deles. Retenho, no entanto, as pinturas de Eva-Maria Schõn, Galli, Fetting, Lisa Hoeven, Renate Anger, são talvez os que mais gostei.
Voltei a casa, cansadíssimo, dormi algumas horas, começaram a chegar pessoas amigas e família para o jantar dos anos da mãe. Eu fechei-me no quarto até à hora do jantar, faz-me imensa confusão o barulho que fazem.

Al Berto – Diários – Ed. Assírio & Alvim


“Assim como o ferro afia o ferro, o homem afia o seu companheiro.”
– Provérbios 27:17

O philoi oudeis philos

 

O inferno dos vivos não é algo que será; se existe, é aquele que já está aqui, o inferno no qual vivemos todos os dias, que formamos estando juntos. Existem duas maneiras de não sofrer. A primeira é fácil para a maioria das pessoas: aceitar o inferno e tornar-se parte deste até o ponto de deixar de percebê-lo. A segunda é arriscada e exige atenção e aprendizagem contínuas: tentar saber reconhecer quem e o que, no meio do inferno, não é inferno, e preservá-lo, e abrir espaço. 

Ítalo Calvino – As Cidades Invisíveis

Estamos de volta, depois da parada de janeiro, porque eu estava de férias. Feliz Ano Novo. Sei que o ano já começou e o sol já vai alto, mas por aqui agora é que o Ano vai começar de verdade, com seus entraves, problemas, picuinhas e alegrias.

Eu não escrevi sobre a carta de Ano Novo, e é dela que vamos falar. A carta que vai reger o Ano. Eu devia ter tido tempo pra falar dela, mas não foi possível no dia. Mas a energia de toda forma só valeria quando o ano da oraculista começasse, e isso é hoje 😁. É sempre hoje, não se esqueçam.

Falamos sobre o 3 de Copas, uma carta linda, auspiciosa, alegre, cheia de promessas de diversão, de momentos de alegria e celebração. É a carta que melhor representa a amizade, é a Carta da Amizade.

Os amigos, segundo a frase super conhecida e extremamente usada, são a família que escolhemos. Isso é e não é muito preciso. Às vezes temos amigos que não escolhemos, que aparecem em nossa vida. E temos também amigos que já nem são mais amigos, são familiares. Um velho amigo é um parente, diz outro provérbio. E é isso mesmo. Também temos amigos que nem mais podemos colocar para fora da nossa vida, tamanho espaço que conquistaram ou forçaram o direito de ocupar. Para o bem e para o mal. Como tudo na vida, amizade também não é algo simples nem monocromático. Mas quem seríamos sem amigos.

De todo modo, o 3 de Copas nos fala da amizade que é feliz, que comemora, e fala também de celebração. Perfeita para o Ano Novo, o celebrar. E tão já tarde no ano, ela nos fala sobre o valor da amizade, sobre aquilo tudo que pensamos quando lembramos dos amigos. Amigos são, ou deveriam ser, descanso. Oásis, água no deserto. Ter amigos é ser visto, notado, é existir em maior plenitude. O melhor espelho é um velho amigo. E se como disse Lacan toda demanda é por reconhecimento, os amigos nos tornam reconhecíveis e reconhecidos.

Hoje se fala muito em uma pesquisa famosa de Harvard, a mais longa pesquisa sobre a qualidade de vida humana, que concluiu que o essencial para a longevidade e qualidade de vida são as relações que cultivamos, são as amizades que temos. O efeito protetor dos amigos passa a ser validado pela ciência. Como se fosse necessário. Eu tenho sorte demais com meus amigos, não desejo mal a quase nenhum. Esse ano é para vocês, esse post também.

Viver só é possível with a little help from my friends. A amizade é um estado onde somos definitivamente iguais em essência, é um acontecimento na vida humana que nos coloca frente a alguém em absoluta condição de igualdade, é idealmente um estar perante um igual.

Uma condição da amizade é a abdicação do poder sobre o outro, na verdade, a abdicação até mesmo do desejo de poder um sobre o outro. E somos atraídos para isso não por necessidade, mas por escolha. Se o amor tem a ver com a felicidade da falta de liberdade primordial, a amizade tem a ver com o complicado gozo da autonomia humana. Assim que um amigo tenta controlar outro amigo, a amizade deixa de existir. Mas até que um amante procure possuir a sua amada, o amor mal começou. Enquanto o amor consiste no malabarismo com o poder de ferir, a amizade consiste em criar um espaço onde o poder deixa de existir. Há um custo nisso, é claro. Os amigos nunca proporcionarão o que os amantes proporcionam: o melhor recurso, aquele espaço seguro de repouso, aquele relaxamento dos lençóis. Mas eles fornecem algo mais confiável e certamente menos doloroso. Eles proporcionam um reconhecimento não da criança interior, mas do adulto exterior; permitem uma honestidade que não ameaça a dor e a crítica que não implica rejeição. Eles prometem não a felicidade do útero, mas a revigorante aventura do mundo. Eles não resolvem a solidão, mas a atenuam.  Andrew Sullivan

♣️

Para Giorgio Agambem, falando sobre a amizade na filosofia de Aristóteles, a amizade é compartilhar com alguém a própria sensação de existir. Eu acho que é como se pudéssemos existir mais na presença de um amigo.

Por isso tantos poetas, pensadores, artistas falam da amizade como um espaço onde o ser se reconhece, se olha e pode acreditar que existe, que sente existir, amizade é com-sentir. Em tempos tão incertos (todo tempo atual é incerto para os seus contemporâneos, mas só estamos neste tempo, relevem), a presença do amigo, dos amigos nos faz mais substanciados, é como se nossa efemeridade fosse suspensa por um instante, é como se nossa transparência para o mundo se tornasse um pouco opaca e começássemos a existir.

Amizade é também isso, ter nossa existência validada, é compartilhar o mundo e através do compartilhamento perceber mais claramente que se está vivo. Uma pessoa sozinha na floresta, como a árvore não vista, ainda existe?

E do lado da celebração, esse ano vamos esperar que aconteçam muitas oportunidades e motivos para estarmos junto dos amigos comemorando a vida, a existência mais possível por causa dos amigos.

A amizade rende, rendeu e renderia tratados para várias vidas. Mas o ano já vai alto e eu ainda não descansei do fim do ano e das férias que me trouxeram o cansaço doce do encontro com amigos queridos. Vou ficando por aqui, mesmo não vendo a hora de te encontrar e continuar aquela conversa que não terminamos ontem…

Feliz 2024, ainda que tardio

A carta de tarô 3 de copas é uma carta que representa a celebração, a alegria e a harmonia. Está associada a momentos de festividade, comemoração e conexão com os outros. Quando  aparece em uma leitura geralmente indica que é hora de celebrar as conquistas e os relacionamentos positivos em sua vida. No contexto amoroso, o 3 de copas pode sugerir que é hora de celebrar o amor e a conexão com o seu parceiro. Pode indicar que é hora de sair e se divertir juntos, fortalecendo os laços afetivos e criando memórias felizes. Se você está solteiro, esta carta pode sugerir que é um bom momento para sair e conhecer novas pessoas. No aspecto financeiro, o 3 de copas pode indicar que é hora de comemorar as conquistas financeiras. Pode ser um momento de colher os frutos do seu trabalho árduo e celebrar o sucesso. Esta carta também pode sugerir que é um bom momento para investir em parcerias e colaborações, aproveitando a energia de cooperação e harmonia. No campo da saúde, o 3 de copas pode indicar que é hora de cuidar do seu bem-estar emocional e físico. Pode sugerir que é um bom momento para se conectar com amigos e familiares, buscando apoio e compartilhando momentos felizes juntos. Esta carta também pode indicar que é importante encontrar um equilíbrio entre o trabalho e o lazer, buscando momentos de diversão e relaxamento. Em termos espirituais, o 3 de copas pode sugerir que é hora de se conectar com a sua comunidade espiritual e buscar apoio nos outros. Pode ser um momento de celebração das suas crenças e valores, encontrando inspiração na conexão com os outros. O 3 de copas nos lembra da importância de celebrar as coisas boas da vida, fortalecer os relacionamentos positivos e buscar momentos de alegria e diversão. 

Um texto para nunca mais não existir

A AMIZADE

é um espelho da presença e um testemunho do perdão. A amizade não só nos ajuda a nos enxergarmos através dos olhos do outro, como também só pode ser mantida ao longo dos anos com alguém que tenha perdoado repetidamente as nossas ofensas, e por outro lado devemos encontrar em nós mesmos a capacidade de perdoar a este alguém.
Um amigo conhece as nossas dificuldades e as nossas sombras, e permanece à vista, é um companheiro mais das nossas vulnerabilidades do que dos nossos triunfos, incluso quando temos a estranha ilusão de que não precisamos dele.
Aquilo que fica não explícito sobre a amizade verdadeira é uma bênção, exatamente porque a sua forma elementar é redescoberta uma e outra vez através da compreensão e da misericórdia.
Todas as amizades de qualquer duração se baseiam no perdão mútuo e contínuo. Sem tolerância e misericórdia, as amizades fenecem.
Com o passar do tempo, uma amizade íntima revelará sempre a sombra do outro, tanto quanto a nossa; para continuarmos amigos, devemos conhecer o outro e suas dificuldades, e mesmo seus pecados, e encorajar o melhor que há nele, não através da crítica, mas dirigindo-nos à sua melhor parte, à parte criativa da sua existência, desencorajando sutilmente o que o torna mais pequeno, menos generoso, menos ele próprio.
Através dos olhos de uma verdadeira amizade, um indivíduo é maior do que as suas ações cotidianas, e através dos olhos do outro recebemos um sentido maior da nossa própria personalidade, aquela a que podemos aspirar, aquela em quem eles têm mais fé. A amizade é uma fronteira móvel de compreensão, não só do eu e do outro, mas também de um futuro possível e ainda não vivido.
A amizade é o grande transmutador oculto de todas as relações: pode transformar um casamento conturbado, tornar honrosa uma rivalidade profissional, dar sentido ao desgosto e ao amor não correspondido e tornar-se o terreno recém-descoberto para uma relação madura entre pais e filhos.
[…] Através dos olhos de um amigo, aprendemos especialmente a permanecer pelo menos um pouco interessantes para os outros. Quando achatamos a nossa personalidade e perdemos a curiosidade pela vida do mundo ou do outro, a amizade perde o espírito e a animação.
[…]Através das surpresas naturais de uma relação mantida ao longo dos anos, reconhecemos os grandes ciclos de que fazemos parte e a fidelidade que nos leva a um sentido mais amplo de revelação, independente da relação humana: aprender a ser amigo da terra e do céu, do horizonte e das estações, mesmo com os desaparecimentos do inverno, e nessa fidelidade percorrer o difícil caminho de nos tornarmos bons amigos do nosso próprio ser.
A amizade transcende o desaparecimento: uma amizade duradoura continua depois da morte, a troca apenas transmutada pela ausência, a relação avançando e amadurecendo de uma forma silenciosa de conversação interna, mesmo depois de uma metade do laço ter falecido.
Mas independentemente das virtudes medicinais de ser um verdadeiro amigo ou de manter uma relação longa e próxima com outra pessoa, a pedra de toque suprema da amizade não é a melhoria, nem do outro nem de si próprio: a pedra de toque suprema é o testemunho, o privilégio de ter sido visto por alguém e o privilégio igual de lhe ser concedida a visão da essência do outro, de ter caminhado com ele e de ter acreditado nele e, por vezes, apenas de o ter acompanhado, por muito breve que seja, numa viagem impossível de realizar sozinho.

David Whyte


Estranho é gostar tanto do seu All Star azul

Existe também um mundo inteiro de obras sobre a amizade, foi muito difícil escolher. Eu escolhi mais de uma obra de cada, mesmo sabendo que o texto ia ficar gigantesco, e que não estamos mais em tempos de tantas letras. Mas eu sou uma velha senhora que gosta de bastante palavrinhas e acho que quem vem aqui ler deve simpatizar também, afinal, aqui tem sobra delas. Eu escolhi as que mais me tocaram. Ou melhor, eu escolhi aquelas das quais me lembrei né, tudo é recorte da memória.

Livros

A Tetralogia Napolitana – Elena Ferrante. Meu Deus, como eu gostei deste livro. (São quatro livros, na verdade, mas eu, assim como a autora, conto como um livro só). Eu fiquei hipnotizada pela história das duas amigas Lenù e Lilla. Fiquei tão louca pra ler a história toda que corri atrás dos livros quando ainda nem tinham saído aqui no Brasil e li em e-book pirata. A escrita da Elena Ferrante é hipnótica, é devastadora e linda. A história prende, a gente não para enquanto não termina tudo. E como conhece os perrengues femininos essa escritora, seja ela quem for. São quase mil (mais de mil?) páginas de muita coisa, de vários dramas humanos, mas em especial sobre a amizade entre duas mulheres incríveis. Incríveis como personagens, não necessariamente incríveis enquanto heroicas. É um dos meus livros favoritos de toda vida, acho inesquecível e já quero reler, só de pensar nele.


A Tetralogia Napolitana, escrita por Elena Ferrante, é uma obra que cativa e emociona os leitores desde o seu lançamento. Composta pelos livros “A Amiga Genial“, “História do Novo Sobrenome“, “História de Quem Foge e de Quem Fica” e “História da Menina Perdida“, a série narra a história de duas amigas, Elena e Lila, desde a infância até a vida adulta em Nápoles, Itália. O estilo de escrita de Elena Ferrante é marcado pela profundidade psicológica de suas personagens, pela riqueza de detalhes na descrição do cenário napolitano e pela forma como aborda temas como amizade, amor, ambição e desigualdade social. A autora consegue criar uma narrativa envolvente que prende o leitor do início ao fim de cada livro. Um dos pontos mais marcantes da tetralogia napolitana é a maneira como Ferrante retrata a complexidade das relações humanas, especialmente a amizade entre Elena e Lila. As duas amigas, tão diferentes entre si, enfrentam desafios, conflitos e rivalidades ao longo de suas vidas, o que torna a história ainda mais real e palpável para o leitor. Além disso, a autora também aborda questões sociais e políticas que permeiam a vida das personagens, como a desigualdade de gênero, as dificuldades enfrentadas pela classe trabalhadora e as transformações ocorridas na Itália ao longo das décadas.


As Brasas – Sandor Marai. Que livro sensacional! Que obra prima, que beleza de escrita. E tem passagens memoráveis. Esse livro, sobre uma velha amizade entre dois senhores, te rasga o peito em dois, dá um nó e devolve despedaçado pro lugar. Que angústia a gente vive com um personagem que espera a visita de outro, que capacidade de movimentar pedaços do coração que a gente nem lembrava mais que existia. Que livro bom gente, leiam, é um presente ler esse livro. É também, de uma maneira meio enviesada, uma celebração da amizade.


“As Brasas” é um romance escrito por Sándor Márai, um renomado escritor húngaro. Publicado pela primeira vez em 1942, o livro é uma obra-prima da literatura que explora temas como amor, amizade, traição e nostalgia. A história se passa em um castelo na Hungria, onde dois amigos de infância, separados por muitos anos, se reencontram para acertar contas do passado. A narrativa é conduzida de forma envolvente e profunda, mergulhando na psicologia dos personagens e explorando suas emoções mais íntimas. Através de diálogos intensos e reflexivos, o autor revela as complexidades das relações humanas e a profundidade dos sentimentos que as permeiam. Um dos aspectos mais marcantes de “Brasas” é a maneira como Márai constrói os personagens principais, expondo suas vulnerabilidades e desejos mais profundos. Através de flashbacks e reminiscências, somos levados a compreender as motivações e os conflitos que permeiam a amizade entre os protagonistas.

Além disso, o livro aborda questões universais, como o sentido da vida, a passagem do tempo e a busca pela verdade. A atmosfera melancólica e nostálgica que permeia toda a narrativa confere uma profundidade emocional única à obra, tocando o leitor de maneira profunda e duradoura. A escrita de Márai é elegante e poética, repleta de reflexões filosóficas e insights sobre a natureza humana. Sua habilidade em explorar as nuances das relações interpessoais e em capturar a essência da alma humana faz de “Brasas” uma leitura inesquecível e impactante.


Filmes

Thelma & Louise – Ridley Scott – 1991. Ah esse filme… Quem é da Geração X e não tem uma memória linda desse filme? Esse filme entrou nos meus ossos, virou líquido e corre no meu sangue até hoje. Que delícia, que poder de filme. É sensacional, deveria estar (e acho que está mesmo) em qualquer lista de filmes imperdíveis. É um filme sobre o poder da amizade. Como a amizade pode reconstruir gente quebrada, como amigos podem nos tornar inteiros de novo. É sobre mulheres sobrando num mundo de homens feios, é sobre mulheres como gente, o que não era tão comum assim em 1991… É um filme que deu sua parcela para que o mundo começasse a ser mais gentil com as mulheres. Acho que todo mundo que me lê já viu, mas se não viram, é agora, aproveitem.


Thelma & Louise é um filme de estrada e drama dirigido por Ridley Scott e lançado em 1991. O filme é estrelado por Geena Davis como Thelma e Susan Sarandon como Louise, duas amigas que embarcam em uma viagem que muda suas vidas para sempre. A história começa com Thelma, uma dona de casa reprimida, e Louise, uma garçonete desiludida, decidindo fazer uma viagem juntas para escapar de suas vidas monótonas. O que começa como uma simples viagem de fim de semana se transforma em uma jornada de autodescoberta, liberdade e poder feminino. O filme aborda temas importantes como a busca pela liberdade, a luta contra o machismo e a violência contra as mulheres. Thelma & Louise é um filme revolucionário que desafia as convenções sociais e retrata a força da amizade feminina. A química entre Geena Davis e Susan Sarandon é palpável, e as performances das duas atrizes são emocionantes e convincentes. Além disso, o filme também é marcado por sua icônica cena final, onde Thelma e Louise tomam uma decisão radical que as coloca em rota de colisão com a lei. Essa cena se tornou um símbolo do empoderamento feminino e da luta contra a opressão, e solidificou o status do filme como um marco na história do cinema.


O Reencontro – Lawrence Kasdan – 1983 – Um filme muito delicado e emocionante sobre a amizade. Uma ótima história, um elenco delicioso e os anos 80 na tela, que delícia ver como era a vida nesta década, eu revi para escrever e que nostalgia. Mas é um filme que fala muito sobre amizade, sobre o poder da amizade na vida, sobre como as vezes somos frágeis demais para sermos adultos. Eu amo esse filme e tenho ainda uma recordação de ter visto numa tarde deliciosa com amigos.


“O Reencontro” é um filme dirigido por Lawrence Kasdan e lançado em 1983. O longa-metragem conta a história de um grupo de amigos que se reúnem para o funeral de um de seus colegas do colégio. Durante o fim de semana em que estão juntos, eles relembram o passado, reatam laços de amizade e lidam com questões pessoais não resolvidas. O filme é estrelado por um elenco de peso, incluindo Kevin Kline, Glenn Close, William Hurt, Tom Berenger e Jeff Goldblum. A química entre os atores é evidente, e suas performances são cativantes, trazendo profundidade e autenticidade aos personagens. A narrativa habilmente entrelaça os dramas individuais dos personagens com a dinâmica do grupo, explorando temas como amor não correspondido, arrependimento, amadurecimento e a passagem do tempo. A trilha sonora melancólica e a fotografia nostálgica contribuem para criar uma atmosfera envolvente, que transporta o espectador para as memórias e emoções dos protagonistas. Os personagens enfrentam conflitos internos e externos, revelando camadas profundas de suas personalidades e mostrando como o reencontro com velhos amigos pode desencadear reflexões e transformações significativas. Além disso, “O Reencontro” oferece uma reflexão sobre a passagem do tempo e as escolhas feitas ao longo da vida. Os personagens lidam com as consequências de suas decisões passadas e confrontam a realidade de como suas vidas se desenrolaram desde os tempos de colégio. Essa exploração da maturidade e do amadurecimento emocional adiciona uma dimensão extra à narrativa, tornando-a mais rica e impactante. O filme também é marcante por sua abordagem honesta e sensível das relações humanas. Ele mostra como o amor e a amizade podem ser complicados, dolorosos e imprevisíveis, mas também belos e transformadores. As interações entre os personagens revelam a complexidade dos sentimentos humanos e a importância do perdão, da compaixão e do apoio mútuo nos relacionamentos.


Série

Grace e Frankie – Marta Kauffman – 2015. Eu ainda não vi essa série toda, só as primeiras temporadas. Mas só a primeira já vale. É uma série diferente, engraçada e protagonizada por gente velha, olha que maravilha! Não quaisquer velhos, mas gente do calibre de Jane Fonda, Lily Tomlin, Sam Waterston, Martin Sheen. Só isso já vale a série. Mas é uma série que acompanha duas mulheres forçadas a conviver e que desenvolvem uma amizade. É interessante e peculiar ver as coisas próprias da velhice sendo tratadas com protagonismo em uma série. Vale demais. E é da mesma criadora de Friends, risos. Eu quero ainda ver as outras temporadas, parei não foi por não me interessar. 


Grace e Frankie é uma série de comédia original da Netflix que estreou em 2015. Criada por Marta Kauffman e Howard J. Morris, a série conta a história de duas mulheres, Grace Hanson e Frankie Bergstein, que têm suas vidas viradas de cabeça para baixo quando descobrem que seus maridos, Robert e Sol, respectivamente, estão apaixonados um pelo outro e planejam se casar. A série é estrelada por duas lendas de Hollywood, Jane Fonda como Grace e Lily Tomlin como Frankie, e a química entre as duas atrizes é um dos pontos altos da produção. A dinâmica entre as personagens é cativante e a forma como lidam com a situação inusitada em que se encontram é ao mesmo tempo engraçada e emocionante. Uma das grandes qualidades de Grace and Frankie é a forma como aborda temas importantes de forma leve e bem-humorada. A série trata de assuntos como envelhecimento, sexualidade na terceira idade, relacionamentos familiares e amizade de uma maneira autêntica e sensível. Além disso, a série também traz à tona questões como a busca pela realização pessoal e a reinvenção de si mesmo em uma fase da vida em que muitos consideram que já viveram tudo o que tinham para viver. Além das protagonistas, o elenco de apoio de Grace and Frankie é formado por talentosos atores que dão vida a personagens igualmente cativantes e complexos. Martin Sheen e Sam Waterston interpretam os ex-maridos das protagonistas, enquanto June Diane Raphael, Brooklyn Decker, Ethan Embry e Baron Vaughn completam o elenco principal.


Animação

Mary & Max – Uma Amizade Diferente – 2010 – Adam Elliot. Um filme delicado, lindo, profundo. Com uma história deliciosa, Mary & Max desenvolve um tema profundo e tocante num desenho (stop motion, na verdade, mas vcs entenderam.) lindo. Eu fiquei emocionada quando assisti. Ele parece que vai desenrolar o tema de um jeito bem clichê, mas não é assim, acaba sendo uma pequena joia muito boa de ver. Amizade que proporciona redenção e aumenta a vida, aumenta o mundo, embora nem sempre do jeito que descrevem os manuais. Além disso ele gira em torno de cartas e eu amo histórias epistolares.


“Mary & Max – Uma Amizade Diferente” é um filme de animação dirigido por Adam Elliot, lançado em 2010. A história gira em torno de uma amizade improvável entre Mary Daisy Dinkle, uma menina solitária de oito anos que vive na Austrália, e Max Jerry Horovitz, um homem obeso e solitário de 44 anos que mora em Nova York. O filme aborda temas como solidão, amizade, diferenças e aceitação, de uma maneira sensível e tocante. A trama se desenrola através da correspondência por cartas entre Mary e Max ao longo de várias décadas. Tanto Mary quanto Max enfrentam desafios pessoais relacionados à sua condição: Mary lida com o bullying na escola devido à sua peculiaridade, enquanto Max enfrenta o diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista. A maneira como suas vidas se entrelaçam e como encontram conforto um no outro é comovente e inspirador. Além disso, “Mary & Max” apresenta uma abordagem honesta e sem rodeios sobre questões de saúde mental, solidão e isolamento social. A amizade entre Mary e Max é o ponto central do filme, e é retratada de forma genuína e autêntica. A conexão que eles estabelecem através das cartas é um lembrete poderoso do poder da amizade para superar as adversidades da vida. A maneira como eles se apoiam mutuamente, compartilham suas alegrias e tristezas, e encontram conforto um no outro é comovente e inspirador.


♫ – Playlist

    •  Meu amigo Radamés – Tom Jobim
    • All Star – Cassia Eller
    • Eu Prefiro Acreditar – Zeca Pagodinho
    • Recado Para Um Amigo Solitário – Paulinho Pedra Azul
    • With A Little Help From My Friends – Beatles
    • You’re My Best Friend – Queen
    • Canção da América – Milton Nascimento
    • Que bom amigo – Milton Nascimento
    • Amigo – Roberto Carlos
    • Amigos Meus – Vinicius de Moraes
    • Amizade Sincera – Renato Teixeira
    • Tarde em Itapoã – Toquinho
    • Quem tem um amigo tem tudo – Emicida
    • Gente Feliz – Vanessa da Mata & Baiana System
    • Falou Amizade – Caetano Veloso
    • Tá Combinado (part. Gal Costa) – Caetano Veloso
    • Amigos Para Sempre (part. Miguel Zinovic) – Jayne 

Links

Um conto maravilhoso de Clarice Lispector sobre amizade

Matéria sobre o estudo de Harvard

Diálogo de Cícero sobre a amizade

Dez Chamamentos ao Amigo – Hilda Hilst

Uma relação humana honrosa – isto é, aquela em que duas pessoas têm o direito de usar a palavra “amor” – é um processo delicado, violento, muitas vezes aterrorizante para ambas as pessoas envolvidas, um processo de refinamento das verdades que podem dizer uma à outra. .
É importante fazer isso porque quebra a auto-ilusão e o isolamento humanos.

É importante fazer isso porque, ao fazê-lo, fazemos justiça à nossa própria complexidade.

É importante fazer isso porque podemos contar com muito poucas pessoas para percorrer esse caminho difícil conosco.

♣️

Adrienne Rich


Post com a colaboração de @laismeralda, que é a melhor cartomante do pedaço, marque sua consulta com ela.


4 de fevereiro é o 35.º dia do ano no calendário gregoriano. Faltam 331 dias para acabar o ano.


Se você leu até aqui, obrigada! Esse é o meu almanaque particular. Um pedaço do meu diário, da minha arca da velha, um registro de pequenas efemérides, de coisas que quero guardar, do tempo, do vento, do céu e do cheiro da chuva. Os Vestígios do Dia, meus dias. Aqui só tem referências, pois é disso que sou feita.

© Nalua – Caderninho pessoal, bauzinho de trapos coloridos, nos morros de Minas Gerais. Verão.

Esta é a 40ª de 78 páginas que terá este almanaque.