Belo Horizonte, 21 de abril de 2024
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21 de abril é Dia Mundial da Criatividade e Inovação e Aniversário de Brasília e Roma. 753 a.C. é a data tradicional da fundação de Roma por Rômulo. Em 1506 aconteceu o Massacre de Lisboa, que durou três dias e matou 2000 pessoas, acusadas de praticar o judaísmo. Em 1792 Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, foi enforcado e esquartejado. Em 1816 nascia Charlotte Brontë, em 1864 Max Weber, em 1920 Anselmo Duarte. Em 1930 chegava a maravilhosa Hilda Hilst. Em 1945 veio Ana Lúcia Torre, em 1958 Andie MacDowell, em 1964 Anna Muylaert. Neste dia, em 1142 morria Abelardo, sem Heloísa. Em 1902 se foi Sousândrade. Em 2003 nos deixou a insubstituível Nina Simone. Em 2009 se foi silenciosa e totalmente desconhecida, mas deixando um legado sensacional, a fotógrafa Vivian Maier.
Se você, súbita e inesperadamente, sentir alegria,
não hesite. Entregue-se a ela. Há muitas
vidas e cidades inteiras destruídas ou prestes a serem.
Não somos sábios e raramente somos amáveis.
E muito nunca poderá ser redimido.
Ainda assim, a vida ainda tem alguma possibilidade.
Talvez essa seja sua forma de resistir, de mostrar que às vezes
algo melhor do que todas as riquezas ou poderes
do mundo pode acontecer. Pode ser qualquer coisa,
mas é provável que você o perceba no instante
em que o amor começa. De toda forma, frequentemente
é este o caso. De toda forma, seja como for, não tema
a fartura. A alegria não foi feita para ser migalha.
♥️
Mary Oliver
Trad.: Nelson Santander
Neste dia, em 1983 escreveu Alice Walker em seu diário:
21 de abril, quinta.
Cerca de uma semana atrás, Winnie Kelly me ligou para me dizer que A cor púrpura ganhou o American Book Award. Foi muito bom ouvir isso; e então, esta semana – na manhã de segunda-feira, enquanto eu respondia cartas e pagava contas – uma mulher do KDLA [Departamento de Arquivos e Biblioteca de Kentucky] ligou e disse que eu tinha ganhado um Pulitzer. Eu pensei que ela estava brincando. Ela disse que não. A mídia começou a me procurar. E agora estou acabada. Felizmente, minhas amizades da Ms. enviaram uma secretária eletrônica. Embora agora eu ache que não gosto de ouvi-la. Por alguns dias, minhas manhãs tranquilas desapareceram & percebi novamente o quanto sinto falta delas. Preciso delas. O quanto minha serenidade depende da tranquilidade & do silêncio. Talvez seja isso que esses prêmios possam significar (as pessoas continuam perguntando & eu ainda não sei). Que serei livre para não falar.
Robert tem sido maravilhoso. Apoiador, amoroso, paciente, paternal/maternal/amante. Faz compras, cozinha, arruma as coisas. Uma noite eu tive que tomá-lo em meus braços & conduzi-lo! Ele teve o insight: “Desapegue dos seus vícios & da luxúria & coisas boas virão para você.” Fiquei muito feliz em ouvi-lo.
E agora vou passar o fim de semana em Milwaukee para falar ou ser homenageada pelos deltas. O que parece totalmente apropriado, de alguma forma.
Enquanto isso, recebi maravilhosos telegramas etc. de June & Toni Cade Bambara & Paule & um enorme buquê de 1 metro de altura de Bill Jovanovich. Ele disse que se eu precisar de dinheiro, alguém para chorar ou rir “é só chamar”. O American Book Awards & o Pulitzer os levaram a imprimir 20.000 cópias dos ensaios em vez de 10.000. Quanta cautela! Surpreendente.
Mas estou feliz. E Shug & a Celie estão felizes. Todo mundo parece muito emocionado & nós estamos chamando o prêmio de “O Pulitzer do Povo”.
Alice Walker – Colhendo flores sob incêndios: os diários de Alice Walker 1965-2000 – Editora Rosa dos Tempos
Portanto, vá, coma com prazer a sua comida e beba o seu vinho de coração alegre, pois Deus já se agradou do que você faz. Eclesiastes 9:7 |
É melhor ser alegre que ser triste
Perdemos as pequenas alegrias enquanto aguardamos a grande felicidade.
Pearl S. Buck
A todo momento lemos/vemos/ouvimos em algum lugar, de forma explícita ou subliminar que estamos vivendo tempos sombrios. Somos bombardeados com a noção, que se tornou quase um zeitgeist, de que vivemos tempos conturbados e sem esperanças. Estamos ainda digerindo tudo que significou a pandemia, que foi ontem. Estamos às voltas com notícias e estudos sobre a catástrofe climática, sobre a desigualdade social terrível e ascendente. Vemos todos os dias o retrocesso de direitos e o terrível espectro, já materializado, do fascismo e da extrema direita. Não estamos ficando mais novos nem mais saudáveis. Tiramos o 10 de espadas semana passada.
Diante desse quadro, como é possível surgir uma carta solar, alegre e colorida como o Nove de Copas? A carta cujo epíteto, para Alexey Crowley é a própria alegria? Às vezes até a alegria parece desbotada. Traz um gosto ligeiramente amargo e medroso. Mesmo que lá no fundo a gente saiba que é justamente nesse momento que precisamos acessar nossa capacidade de nos alegrarmos. Isso é o Nove de Copas. Alegria. Genuína, exuberante, colorida e de verdade. Em tempos assim precisamos dessa companheira de vida, a alegria. É dela que vamos tirar forças para resistir e para conseguir alguma mudança. Existe alegria em resistir, em trabalhar para mudar. Tristeza e desesperança obviamente fazem parte da vida, mas não é para serem perenes, não precisam durar, nem serem o tom da vida. É saudavel abrir espçao para o prazer e o deslumbramento. O deslumbramento é a alegria se manifestando. A capacidade de se deslumbrar traz alegria. Com o que você se deslumbra na sua vida? Com qual frequencia o espanto vem lhe acenar? Em tempos sombrios a alegria, o espanto são imprescindíveis. A gratidão também é outro elemento que traz alegria. Não é à toa que dizem que as pessoas gratas são mais felizes.
As palavras de Albert Camus num lindo ensaio chamado As Amendoeiras ecoam isso que o Nove de Copas pressagia:
Saibamos, portanto, aquilo que desejamos, apoiemo-nos firmemente sobre o espírito, mesmo que a força assuma, com a finalidade de nos seduzir, o rosto de uma ideia ou de um conforto. A primeira coisa é não desesperar. Não prestemos ouvidos demasiadamente àqueles que gritam, anunciando o fim do mundo. As civilizações não morrem assim tão facilmente; e mesmo que o mundo estivesse a ponto de vir abaixo, isso só ocorreria depois de ruírem outros. É bem verdade que vivemos uma época trágica. Contudo, muita gente confunde o trágico com o desespero. “O trágico”, dizia Lawrence, “deveria ser uma espécie de grande pontapé dado na infelicidade”. Eis um pensamento saudável e de aplicação imediata. Hoje em dia, há muitas coisas que merecem esse pontapé.
Também a escritora Rebeca Solnit fala um pouco sobre isso e nos alerta que alegria e esperança (há sempre esperança na alegria) não são tapa-olhos, não nos impedem de ver a miséria que nos cerca. Não é disso que se trata, não é sobre colocar uma lente cor-de-rosa colada eternamente aos olhos. Com muita lucidez ela escreve:
É importante dizer o que a esperança não é: não é a crença de que tudo estava, está ou ficará bem. A evidência está ao nosso redor de tremendo sofrimento e tremenda destruição. A esperança que me interessa diz respeito a perspectivas amplas com possibilidades específicas, que convidam ou exigem que ajamos. Também não é uma narrativa ensolarada de que tudo está melhorando, embora possa ser um contraponto à narrativa de que tudo está piorando. Poderíamos chamar isso de um relato de complexidades e incertezas, com aberturas.
Pois é isso que precisamos saber para essa semana, onde está nossa alegria. Onde encontramos essa alegria transformadora que nos dá força para resistir. Esta semana, se por algum motivo não pudermos ficar bem, chegar a tocar a alegria, vamos fazer o mesmo que já fizemos antes, com outra carta, vamos ao menos saber onde dentro de nós a alegria mora, vamos relembrar que ainda é possível se alegrar, que as coisas florescem e que a primavera interior é mesmo invencível.
Boa semana,
![]() O Nove de Copas é uma carta do tarô que representa a alegria, a satisfação e a felicidade. Conhecida como o “desejo concedido”, esta carta está associada à concretização de sonhos e desejos. Quando esta carta aparece em uma leitura, ela sugere que a pessoa está prestes a alcançar algo que deseja. No tarô, as copas representam o elemento água, que está relacionado às emoções, intuição e sensibilidade. O Nove de Copas, portanto, indica um momento de plenitude emocional e realização interior. Esta carta traz consigo uma energia positiva e encorajadora, sugerindo que a pessoa está em um momento de grande contentamento e alegria. O Nove de Copas também está associado à gratidão e ao reconhecimento das bênçãos que já foram recebidas. Esta carta nos lembra da importância de valorizar as conquistas e as alegrias presentes em nossa vida, e nos convida a expressar gratidão por tudo aquilo que temos. Ela nos lembra que a felicidade está muitas vezes nas coisas simples e cotidianas, e que é importante reconhecer e apreciar os momentos de alegria que surgem em nosso caminho. Esta carta sugere que os esforços e as energias investidas estão prestes a ser recompensados, e que a pessoa está próxima de alcançar aquilo que mais deseja. Ela traz consigo uma mensagem de esperança e otimismo, indicando que o sucesso e a realização estão próximos. Mas o Nove de Copas também nos alerta para não nos deixarmos levar pelo excesso de indulgência ou auto-satisfação. Embora esta carta traga consigo uma energia positiva, é importante manter o equilíbrio e a moderação em todas as áreas da vida. Ela nos lembra que a verdadeira felicidade vem da harmonia interior e do equilíbrio emocional, e que é importante manter uma atitude de gratidão e humildade mesmo diante das conquistas. É uma carta do tarô que representa a realização da alegria, um sentimento de contentamento e encanto. |
O Sol nas Bancas de RevistaO que me trouxe alegria. |
Livro
O Palácio da Memória – Nate DiMeo. Eu peguei esse livro sem saber nem do que se tratava. Já tem muito tempo que li. E adorei. São 50 histórias reais de pessoas extraordinárias que o autor compilou de um podcast mais antigo e colocou no livro. São histórias incríveis, bem contadas e todas com um delicioso gosto de felicidade e alegria. Recomendo demais a leitura, é como um bálsamo para dias ruins ou épocas conturbadas. É a extração da beleza da vida comum.
O livro reúne narrativas exemplares e emocionantes que aconteceram à sombra da história oficial. Um conjunto irresistível de trajetórias humanas que ajudam a iluminar aspectos menos conhecidos de grandes eventos. A menina de apenas catorze anos que foi a primeira pessoa a se apresentar como “homem bala”, quando essa bizarra profissão acabava de ser inventada. O jovem e brilhante cientista que teve que ser uma espécie de babá da primeira bomba atômica durante uma perigosa tempestade que poderia botar tudo a perder. A jovem imigrante italiana, recém chegada a Nova York, que se apaixona à primeira vista por um guerreiro zulu exposto num circo de excentricidades. A linda história de amor entre o dono de um nightclub e sua dançarina – anos mais tarde avós do autor deste livro cheio de histórias arrebatadoras. Seleção de algumas das narrativas apresentadas por Nate DiMeo em The Memory Palace, um dos podcasts de maior sucesso dos Estados Unidos, O palácio da memória reúne, pela primeira vez em livro, um conjunto absolutamente viciante de histórias sobre pessoas comuns que enfrentaram – com coragem, paixão e inteligência – as vicissitudes, grandes e pequenas, oferecidas pela vida.
Filmes
Dança Comigo – Peter Chelsom – 2004. Eu vou indicar um filme aqui que eu sei que não é uma obra prima do cinema, é uma refilmagem (aliás eu gosto mais do original do que dessa refilmagem), e é quase um enlatado. Mas era um dos filmes preferidos da minha mãe, e ela sempre ficava alegre quando revia, ou quando falava dele. E a imagem da minha mãe alegre (ela, que não era alegre) é uma das coisas mais belas da minha memória. E o filme em si é um filme muito alegre, e desperta alegria em quem assiste. E quem me mostrou o original, que é uma graça, esse sim, um filme belíssimo, foi meu marido. E é uma lembrança feliz também que tenho. Assistam os dois. O segundo também se chama Dança comigo – Masayuki Suo – 1996.
“Dança Comigo” é um filme dirigido por Peter Chelsom e lançado em 2004. Este filme é uma comédia romântica que conta a história de um advogado bem-sucedido, interpretado por Richard Gere, que se sente entediado com a vida e decide mudar de rumo ao se deparar com uma bela mulher dançando em um hotel. A partir desse encontro inesperado, a trama se desenrola de forma envolvente e divertida, trazendo à tona temas como a busca pela felicidade, a importância de arriscar-se e a redescoberta do prazer na vida cotidiana. O filme tem como pano de fundo a cidade de Nova York, que por si só já agrega um charme especial à narrativa. A trilha sonora é outro ponto alto da produção, embalando as cenas de dança e contribuindo para criar uma atmosfera romântica e inspiradora. A coreografia é um elemento essencial na trama, pois é por meio da dança que os personagens se conectam e encontram uma nova maneira de se expressar e se relacionar. Além de Richard Gere, o elenco conta com a talentosa Jennifer Lopez, que interpreta a protagonista feminina. A química entre os dois atores é evidente e contribui para a construção de um romance cativante e crível. A atuação de ambos é convincente e emocionante, o que torna a história ainda mais envolvente para o público. O roteiro do filme aborda questões relevantes sobre a busca pela realização pessoal e a coragem necessária para seguir os próprios sonhos. A mensagem central de “Dança Comigo” é a importância de se arriscar em busca da felicidade, mesmo que isso signifique sair da zona de conforto e enfrentar desafios inesperados. Através da dança, os personagens descobrem novas formas de se expressar e se conectar com o mundo ao seu redor, o que os leva a uma jornada de autodescoberta e transformação.
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O filme “Dança Comigo” (Shall We Dance?) é uma comédia romântica japonesa dirigida por Masayuki Suo e lançada em 1996. O enredo gira em torno de Shohei Sugiyama, um homem de meia-idade que se sente entediado com sua vida monótona e decide se inscrever em aulas de dança de salão, escondendo isso de sua família. Ao longo do filme, Shohei descobre uma paixão pela dança e encontra um novo propósito em sua vida. A história se desenrola de forma encantadora, mostrando a jornada de autodescoberta de Shohei e como a dança o ajuda a superar suas inseguranças e a encontrar alegria e realização. O filme aborda temas como a busca pela felicidade, a importância de seguir nossos sonhos e a superação de desafios pessoais. Além da trama principal, “Dança Comigo” também apresenta personagens secundários cativantes, como os colegas de dança de Shohei, cada um com sua própria história e motivação para participar das aulas. A interação entre esses personagens adiciona camadas à narrativa e enriquece a experiência do espectador.
Documentário
O Poder do Mito – 1988 – Joseph Campbell and the Power of Myth. Joseph Campbell – Bill Moyers. Esse documentário é uma alegria sem fim. Eu me lembro quando vi que sensação inebriante foi, que deleite ouvir as palavras daquele ser que eu considerava iluminado e sábio. É um documentário muito bom, muito instrutivo e muito interessante. Foi um daqueles que lá nos anos 90 explodiu minha cabeça jovem. E a sensação que mais ficou do momento em que eu vi foi realmente a de alegria. Mas além disso é uma série sensacional, vale muito à pena tirar um tempo pra assistir.