mas ladainha lá na minha casa

Belo Horizonte, 10 de dezembro de 2023

🔥Perto do fogo


10 de dezembro é Dia Internacional dos Direitos Humanos. Também é Dia do Sociólogo, parabéns para mim e para minha turma querida! Em 1909 Selma Lagerlöf foi a primeira mulher a receber o Nobel de Literatura. Em 1925 Nossa Senhora apareceu para a religiosa Lúcia de Jesus dos Santos, em Pontevedra, Espanha. Em 1948 A Declaração Universal dos Direitos Humanos é adotada pela Organização das Nações Unidas – ONU. Em 1815 nasceu a adorável e indispensável Ada Lovelace, sem a qual este almanaque não existiria. Em 1830 chegou a outra adorável Emily Dickinson. Em 1962 veio Cássia Eller. Que dia de mulheres sensacionais.  Em 1968 nos deixou Thomas Merton, que me falou muito e muito de fé e espiritualidade. Em 2017 se foi Eva Todor.


Poema Espiritual

Eu me sinto um fragmento de Deus
Como sou um resto de raiz
Um pouco de água dos mares
O braço desgarrado de uma constelação.

A matéria pensa por ordem de Deus,
Transforma-se e evolui por ordem de Deus.
A matéria variada e bela
É uma das formas visíveis do invisível.

Na igreja há pernas, seios, ventres e cabelos
Em toda parte, até nos altares.
Há grandes forças de matéria na terra no mar e no ar
Que se entrelaçam e se casam reproduzindo
Mil versões dos pensamentos divinos.
A matéria é forte e absoluta
Sem ela não há poesia.

♣️

Murilo Mendes


Galvão Bertazzi ❤️

Porque andamos por fé e não por vista.

2 Coríntios 5:7

Escreveu Maria Gabriela Llansol nas margens das páginas de um livro*:

10 de Dezembro de 1979 [Data da marginalia) [pp.1-2]

Um programa de vidro tem uma contextura contínua / um texto é a minha expressão de de vida; se a morte fosse a auséncia definitiva de texto, a minha escrita devia preparar-se para ter um rumor diferente e perecer em zonas em que o inferno, que não teve nenhum principio na minha vida, acaba…

*Uma ávida e potente vontade de ser de facto a condição da verdade.*
Ouve este segredo este segredo/ este segredo ouve

Sebastião,
Não tenho necessidade de ser cruel para com o meu semelhante porque vivo com seres de graciosidade infinita; eles transportam com delicadeza a noite obscura, que acaba por se submeter a suas leis.
Expressão de vida. Aqui todo lugar tem várias/ possui formas, e Sebastião, o dom, vem buscar / procura parte menos crua da batalha; por isso, ele julga-se meu filho, neste lugar vazio, onde todos os dias se renova uma indestrutível vontade de ser. 

Maria Gabriela Llansol – Escrito nas Margens. Livro de Horas VIII. Ed. Assírio & Alvim

*📖 Pierre e Jean Noël Gurgand, Priez pour nous à Compostelle, Paris, Hachette, 1978


Fé Cega, Faca Amolada

“Eu cá, não perco ocasião de religião. Aproveito de todas. Bebo água de todo o rio… uma só para mim é pouca, talvez não me chegue.”

Guimarães Rosa – Grande Sertão: Veredas

Nesta semana, de maneira mais condizente com dezembro nos chega o Papa, o Hierofante, o Sumo Pontífice. Uma carta que nos remete à Igreja Católica. Sim, eu sei, eu também abomino quase tudo da Igreja. E como Sam Harris, entendo que as religiões do mundo são meras ruínas intelectuais, mantidas a um enorme custo econômico e social. 

Mas a verdade é que todas as pesquisas sérias sobre a história do tarô indicam que ele tem origem católica. Pois é. O Tarô não veio do Egito, nem dos ciganos, nem da Atlântida. O tarô, em seu surgimento, muito provavelmente tem relação com uma espécie de caminho para encontrar Cristo, numa iconografia e iconoplastia muito mais católicas do que nosso sangue bruxo gostaria de admitir.

Obviamente isso já ficou para trás há muito tempo, podemos suspirar aliviados. O tarô já assumiu outras dimensões e inclusive é ironicamente condenado por grande parte da própria Igreja. Como tinha que ser, é claro. Que bom que saiu da alma católica. Isso demonstra seu poder e alcance. O tarô, antes uma espécie de quase catecismo católico, agora nos torna quase hereges. Coisa de bruxas, de magia, paganismo, do inferno. Vocês já sabem. E não só os católicos nos odeiam. Às vezes é bom ser odiado pela banda certa.

Mas o que fazer com o Sumo Sacerdote, com toda sua imagética católica? E o que quer de nós, que nem católicos somos, este papa tão romano? Essa carta, como todos os arcanos maiores, tem vários significados, e tem impacto em várias áreas de vida. Mas hoje, neste dezembro sufocante, o Pontífice que já não é mais católico nem apostólico, vem dizer para aproveitarmos a época e refletirmos sobre a nossa espiritualidade.

A espiritualidade é um acontecimento humano que ultrapassa em muito a dimensão religiosa. É basicamente inerente ao ser humano.  Para as antropólogas Marconi e Presoto:

 Todas as populações estudadas pelos antropólogos demonstram possuir um conjunto de crenças em poderes sobrenaturais de alguma espécie. As sociedades, frequentemente, desenvolvem normas de comportamento com a finalidade de se precaver contra o inesperado, o imprevisível, o desconhecido, e de estabelecer certo controle sobre as relações entre o homem e o mundo que o cerca.

Reparem, não há sociedade humana que não tenha tido uma manifestação religiosa. Ser humano é ansiar por qualquer forma de transcendência. Portanto, a espiritualidade não deve ser monopólio de uma única religião ou instituição religiosa. Embora esteja muitas vezes relacionada à religião, a espiritualidade está na realidade ligada à conexão entre o ser humano e o transcendente.

Religião e espiritualidade, como já sabemos, são coisas diferentes. A palavra espiritualidade tem raiz no termo respirar, e é bem isso, não vivemos sem respirar, não vivemos fora da dimensão da espiritualidade, por mais pobre que seja a experiência individual da transcendência. Vamos deixar por um momento a concepção de que a espiritualidade é supersticiosa, crédula ou infantil. Para exercer ou entrar em contato com a espiritualidade não é necessário ter fé. A espiritualidade também é algo maior do que uma simples conexão com algum sentimento de beleza e amor mundanos.

O filósofo e neurocientista Sam Harris, no seu livro Despertar mostra isso de maneira bem bonita, que espiritualidade está ligada à noção de que o eu é uma ilusão, de que sentimentos positivos como compaixão, paciência e tolerância podem ser aprendidas e de que nossa mente define quase que inteiramente nossa experiência de mundo. Isso, além de qualquer experiência oceânica que possamos ter, e temos. A conexão com a natureza, com a beleza, com o amor também são partes da espiritualidade. A espiritualidade é condição de uma vida plena e cheia de significado. A própria busca por significado é espiritual, é a espiritualidade agindo.

E aqui temos uma espécie de quase meta reflexão: O tarô nos incitando a pensar sobre algo que é a sua própria essência. Um dos papéis principais do tarô é nos conectar com a espiritualidade. Através do poder dos seus símbolos, o tarô quer ser também uma ponte que nos liga ao transcendente. E é isso que ele nos pede agora. É bom lembrar que a palavra pontífice vem do latim pontifex, aquele que constrói pontes.

Que saibamos ao menos um pouco, onde está nossa espiritualidade, onde se satisfaz o nosso desejo de transcendência, porque sim, todos temos esse desejo, por mais enfurnado que o mesmo esteja no momento.

Espero que vocês tenham uma semana numinosa, que experiências e sentimentos transcendentes cheguem em vocês. E que a experiência meio nonsense de preparativos para o Natal e fim de ano possa ter um toque de transcendência. Não se esqueçam de folha de arruda, pé de coelho e sal grosso.

A benção, mãe. A benção, pai.

A carta de tarô O Papa é também conhecida como Hierofante, e representa autoridade espiritual, sabedoria e orientação. O Papa é ilustrado como um homem idoso, vestido com roupas papais e sentado em um trono. Ele segura um cetro e usa uma coroa, simbolizando poder e autoridade espiritual. Ao seu redor, há dois pilares, que representam dualidade e equilíbrio. O Papa também é frequentemente retratado com dois seguidores ou discípulos aos seus pés, significando a transmissão de conhecimento e orientação. Esta carta tem uma forte ligação com a religião e a espiritualidade. Ela representa a busca por conhecimento espiritual e a conexão com o divino. O Papa é o intermediário entre o céu e a terra, aquele que transmite os ensinamentos sagrados e oferece orientação espiritual aos outros. Ele é um símbolo de sabedoria, compaixão e compreensão.

Quando o Papa aparece em uma leitura de tarô, em geral, ele indica a presença de uma figura de autoridade ou mentor em sua vida. Pode ser alguém que oferece orientação espiritual ou conselhos sábios. Esta carta também pode representar a necessidade de buscar conhecimento espiritual ou encontrar um propósito mais elevado em sua vida. O Papa também pode indicar a importância da tradição e dos valores estabelecidos. Ele sugere que você deve seguir os princípios éticos e morais que são importantes em seu caminho. Esta carta pode ser um lembrete para agir com integridade e respeito pelos outros. Ela também pode indicar a necessidade de encontrar um equilíbrio entre suas crenças espirituais e sua vida cotidiana.

Em algumas leituras, o Papa pode representar um casamento ou uma parceria significativa. Ele sugere compromisso, estabilidade e união. Se você está enfrentando desafios em um relacionamento, esta carta pode indicar a importância de buscar orientação espiritual ou conselhos de uma figura mais experiente.  O Papa é um símbolo poderoso de autoridade espiritual, sabedoria e orientação. Ela representa a busca por conhecimento espiritual e a conexão com o divino.

Um texto para esperar Godot

Acima da infinidade do espaço e do tempo, o amor incessantemente mais infinito de Deus vem nos capturar. Ele vem na sua hora. Nós temos o poder de consentir em acolhê-lo ou recusá-lo. Se permanecermos surdos, Ele continuará voltando como um mendigo, mas também como um mendigo, um dia Ele não voltará mais. Se consentirmos, Deus colocará em nós um pequeno grão e irá embora. A partir desse momento, Deus não tem mais nada a fazer e nós tampouco, senão esperar. Devemos apenas não lamentar o consentimento que demos, o sim nupcial. Não é tão fácil quanto parece, pois o crescimento do grão em nós é doloroso. Pelo próprio fato de aceitarmos esse crescimento, nós não podemos deixar de destruir aquilo que incomoda, arrancar as ervas daninhas, cortar a tiririca; mas infelizmente as ervas daninhas fazem parte da nossa própria carne, de modo que os cuidados do jardineiro são uma operação violenta. No entanto, o grão, no final das contas, crescerá sozinho. Virá um dia em que a alma pertencerá a Deus, quando não apenas ela consentirá com o amor, mas realmente, efetivamente, ela amará. Será preciso, então, por sua vez, que ela atravesse o universo para chegar até Deus. A alma não ama como criatura de um amor criado. Este amor nela é divino, incriado, pois é o amor de Deus por Deus que passa através dela. Apenas Deus é capaz de amar a Deus. Nós podemos apenas consentir em perder nossos sentimentos próprios para dar passagem em nossa alma a esse amor. Isso é negar a si mesmo. Nós só somos criados devido a esse consentimento.

Simone Weil – à Espera de Deus – Editora Vozes

Se eu quiser falar com Deus

Livro

O Evangelho Segundo Jesus Cristo – José Saramago. Vamos ler um livro sobre Jesus de um renomado e renitente ateu. Eu amo esse livro, li quando era jovem, mas ele ecoa em mim até hoje. É um livro que exala espiritualidade em cada palavra, porque exala humanidade ao contar a vida de Cristo. É claro que ao narrar a vida de Jesus e retratá-lo como demasiado humano, Saramago sofreria sanções, proibições e que seria um deus-nos-acuda a recepção do livro. Interessante seria se fosse diferente não é? Mas as instituições e as pessoas não surpreendem, em geral. Sermos surpreendidos é transcendente, quase. É um livro magistral, uma obra prima, não tem como ser melhor. Leiam sem medo, sem receio da pontuação de Saramago. A beleza das suas palavras ultrapassa qualquer desconforto inicial.


Romance magistral e polêmico do Prêmio Nobel de Literatura de 1998. “O filho de José e de Maria nasceu como todos os filhos dos homens, sujo de sangue de sua mãe, viscoso das suas mucosidades e sofrendo em silêncio. Chorou porque o fizeram chorar, e chorará por esse mesmo e único motivo.” Todos conhecem a história do filho de José e Maria, mas nesta narrativa ela ganha tanta beleza e tanta pungência que é como se estivesse sendo contada pela primeira vez. Nas palavras de José Paulo Paes: “Interessado menos na onipotência do divino que na frágil mas tenaz resistência do humano, a arte magistral de Saramago excele no dar corpo às preliminares e à culminância do drama da Paixão”.

«Para mim, o núcleo duro do romance [O Evangelho segundo Jesus Cristo] é quando Jesus, aos catorze anos, vai ao templo de Jerusalém para falar da culpa e da responsabilidade. Não encontra nenhum doutor, mas sim um escriba. Jesus, no livro, herda a culpa de seu pai, que não soube salvar as crianças [no episódio da matança dos inocentes]. Quando pergunta ao escriba como é que é isso da culpa, o escriba diz-lhe: “A culpa é um lobo que devora o pai como devora o filho.” Quer dizer, a crença implica que os filhos herdaram a culpa dos seus pais. A partir de um dado momento, já não se sabia qual a culpa concreta. O sentimento de culpa, que não sabemos porquê nem como nasceu, como se incrustou em nós, é muitíssimo pior do que a culpa concreta. Então, Jesus pergunta-lhe: “Tu também foste devorado?” E o escriba responde: “Não só devorado, mas também vomitado.” A relação com Deus dá-se em termos de culpa, como no fundo acontece em todo o cristianismo e judaísmo.» José Saramago


Filme e conto

A Chegada – 2016 Denis Villeneuve. História da sua vida e outros contos – Ted Chiang. Eu indico este filme, mas de saída sei que não posso transmitir o impacto que ele teve em mim. Primeiro eu li o conto no qual ele se baseou. E a leitura desse conto foi uma experiência quase psicodélica. Talvez porque eu tenha lido em meio ao pior luto de toda minha vida, em meio a uma dor dilacerante. E conto e filme me ajudaram a atravessar esse período sem perder a sanidade. Os dois são maravilhosos e abriram em mim uma experiência indizível, eu realmente vivenciei um estado alterado de consciência lendo o conto e vendo o filme. Talvez por isso seja meu filme preferido da vida, e não quero nem saber quem não gostou, não me contem 🙂 (é brincadeira, claro). E eles descrevem uma experiência muito espiritualizada, embora sejam obras de ficção científica. Se ainda não conhecem, vejam o filme e leiam o conto. O conto se chama História da sua Vida e é o melhor que já li na vida também, talvez esteja no mesmo patamar do A Terceira Margem do Rio, de Guimarães Rosa.


Série


The Good Place – 2016 – Michael Schur. Uma série desconcertante. Eu tive dificuldade de conseguir imergir nela a princípio, mas depois que engrenei, achei imperdível. Serve demais para refletir sobre a espiritualidade, sobre ética, sobre a vida em geral, nesta dimensão do transcendente. Comédia não é um gênero de série que eu assista muito amiúde, mas esse seriado é uma obra de arte, nem terminei ainda e já saí indicando.


The Good Place é uma série de televisão de comédia fantasiosa americana criada por Michael Schur. A série estreou na NBC em 19 de setembro de 2016 e terminou em 30 de janeiro de 2020, com um total de quatro temporadas. A premissa inicial da série segue Eleanor Shellstrop (Kristen Bell), uma mulher egocêntrica que morreu e foi enviada para o “Lugar Bom”, um paraíso pós vida para as pessoas que viveram boas vidas. No entanto, Eleanor logo percebe que foi enviada ao Lugar Bom por engano e que, na verdade, ela era uma pessoa horrível. Para permanecer no Lugar Bom, Eleanor precisa se esforçar para se tornar uma pessoa melhor. Ela conta com a ajuda de Chidi Anagonye (William Jackson Harper), um professor de ética, e de Tahani Al-Jamil (Jameela Jamil), uma filantropa rica e bem-sucedida. A série explora temas como a moralidade, a ética e o significado da vida. Ela é uma comédia inteligente e perspicaz que também é capaz de gerar reflexões profundas sobre a condição humana. A premissa original da série é bastante absurda e divertida. A ideia de que uma pessoa egocêntrica e malvada possa ser enviada para o paraíso é um paradoxo que gera muitas risadas. Os personagens da série são bem desenvolvidos e carismáticos. Eleanor é uma personagem complexa e envolvente, e seu arco de evolução é um dos pontos fortes da série. A série aborda temas importantes de forma leve e divertida. The Good Place é uma série que faz você rir, chorar e pensar. The Good Place foi um sucesso de crítica e público. A série foi elogiada por sua criatividade, humor e inteligência. Ela também foi indicada a diversos prêmios, incluindo o Emmy e o Globo de Ouro.


Quadrinho

Habibi – Craig Thompson. Uma HQ lindíssima. Com uma história hipnotizante, embora com passagens algo polêmicas para a alma de hoje. Na minha opinião nada que tire o valor dessa HQ. Ela também é desconcertante. Mas é uma leitura maravilhosa, o traço é lindo e a história é profunda, tocante. E proporciona uma reflexão muito boa sobre espiritualidade. Recomendo demais.


Uma história de amor pode tomar muitas formas. Em Habibi, é a saga de dois escravos fugitivos, unidos e separados pelo destino, vivendo no limite que separa a tradição da descoberta.Dodola, uma garota perspicaz e independente, foge de seus captores levando consigo um bebê. Eles crescem juntos no deserto, sozinhos em um navio naufragado na areia. Em meio a sentimentos cada vez mais conflitantes, os dois passam o tempo contando histórias. Assim, somos apresentados também à origem do islamismo e de suas tradições, conforme as narrativas se combinam numa trama de aventura, romance, filosofia e tragédia.Para contar a saga de Dodola e Zam, Craig Thompson recorreu ao Corão e às Mil e uma noites. Do primeiro, colheu o próprio estilo do livro, inspirado na caligrafia árabe, e também as narrativas do texto sagrado dos muçulmanos, recriadas com maestria pela pena do autor. Do segundo, tirou um cenário fantasioso, repleto de lendas e histórias, uma versão quase mitológica da nossa ideia de Oriente. Ambientado nos dias de hoje, Habibi não se passa em nenhum país conhecido. É uma terra igualmente fantástica e concreta, onde questões presentes se misturam a indagações ancestrais. Crítica social, questionamentos ecológicos, paralelos entre religião e amor: tudo encontra seu lugar nesta narrativa tão épica quanto particular. Fruto de sete anos de pesquisas e trabalho, Habibi é um monumento do quadrinho moderno e uma resposta atual a questões que nos perseguem desde sempre.


Documentário


Àkàrà, no Fogo da Intolerância – 2020. Claudia Chavez. Esse documentário eu assisti junto com a Laís, e além de ser um ótimo filme, é também sensacional para refletir sobre a espiritualidade, pelo viés da intolerância religiosa, que é muito atual. Ele tem muito a ver com a carta do Hierofante, tanto no aspecto da espiritualidade quanto no da intolerância religiosa, pois mostra como as religiões de matriz africana são massacradas pelos fundamentalistas e radicais evangélicos, que usam do saber africano, da cultura ancestral, da tradição alimentar em Salvador, vendendo a comida de santo sem querer dar o devido crédito, deturpando a função religiosa e achincalhando a espiritualidade africana. É um retrato triste do que acontece no país, com o crescimento da intolerância e do fanatismo. Recomendo demais. Ele está de graça no site do cine terreiro.


Àkàrà no fogo da intolerância é um documentário que se une à luta contra a intolerância que atinge, principalmente, as religiões de matriz africana, discutindo um tema que sai do âmbito religioso e que envolve até a forma como está sendo conduzida a política governamental no Brasil. A partir da conflitante realidade do Acarajé, um dos pratos mais tradicionais da culinária popular afro-brasileira, que vem sofrendo uma série de adaptações regidas principalmente pelo credo religioso de quem o prepara e comercializa, percorremos caminhos diversos fazendo um apanhado dos casos de intolerância religiosa mais marcantes acontecidos nos últimos anos. Uma análise histórica desde a perspectiva de quem sofre este tipo de violência e a relação desta com o racismo estruturante instaurado na sociedade brasileira.


Playlist ♫

Reza forte – Baiana System
Casa de bamba – Martinho da Vila
Se eu quiser falar com deus – Gilberto Gil
Fica mal com Deus – Geraldo Vandré
Monte Castelo – Legião Urbana
Reza – Rita Lee
Deus há de ser  – Elza Soares & Pedro Luís
Cobaias de Deus – Cazuza
Serpente – Pitty
Roda – Pitty

Link da Playlist, adicionada pela Márcia ❤️

Alguns guardam o Domingo indo à Igreja
Eu o guardo ficando em casa
Tendo um Sabiá como cantor
E um Pomar por Santuário.

Alguns guardam o Domingo em vestes brancas
Mas eu só uso minhas Asas
E ao invés do repicar dos sinos na Igreja
Nosso pássaro canta na palmeira.

É Deus que está pregando, pregador admirável
E o seu sermão é sempre curto.
Assim, ao invés de chegar ao Céu, só no final
Eu o encontro o tempo todo no quintal.

Emily Dickinson

Luis Fernando Veríssimo ❤️


Post com a colaboração de @laismeralda, que é a melhor cartomante do pedaço, marque sua consulta com ela.


10 de dezembro é o 344.º dia do ano no calendário gregoriano (345.º em anos bissextos). Faltam 21 dias para acabar o ano.


Se você leu até aqui, obrigada! Esse é o meu almanaque particular. Um pedaço do meu diário, da minha arca da velha, um registro de pequenas efemérides, de coisas que quero guardar, do tempo, do vento, do céu e do cheiro da chuva. Os Vestígios do Dia, meus dias. Aqui só tem referências, pois é disso que sou feita.

© Nalua – Caderninho pessoal, bauzinho de trapos coloridos, nos morros de Minas Gerais. Primavera infernal.

Esta é a 37ª de 78 páginas que terá este almanaque.