E o último cigarro eu ainda não fumei

Belo Horizonte, 16 de abril de 2023
☼ 28° – 18°


Dia da Voz e Dia Nacional da Dinamarca. Aniversário de Álvaro de Campos. Um dia depois do aniversário da Maria Angélica. Em 1971 nasceu Selena, em 1889, nascia Charlie Chaplin e em 1965, Martin Lawrence. Em 2020 num 16 de abril nos deixava Christophe, artista francês que compôs a música Aline, e por causa dela tenho esse segundo nome. Em 2018 nos deixava Dona Ivone Lara, uma das brasileiras mais interessantes da nossa história.

Rasteja e espreita
Levita e deleita
É negro. Com luz de ouro.

É branco e escuro.
Tem muito de foice
E furo.

Se tu és vidro
É punho. Estilhaça.
É murro.

Se tu és água
É tocha. É máquina
Poderosa se tu és rocha.

Um olfato que aspira
Teu rastro. Um construtor
De finitudes gastas.

É Deus.
Um sedutor nato.


Hilda Hilst


Escreve Marina Tsvetáieva em suas memórias da primeira infância, ela, que tinha realmente um diabinho de estimação numa garrafa:

Deus era estranho, o Diabo familiar. Deus era frio, o Diabo quente. E nenhum deles era bom. E ninguém – mau. Apenas um deles eu amava e conhecia, já o outro – não. Um deles amava-me e conhecia-me, o outro – não. Um deles me era imposto com visitas à igreja, estadas na igreja, com o lustre que se duplicava, pelo sono, diante de meus olhos: ele se separava e de novo se juntava – Aarons e Faraós e toda a ladainha eslava, um deles me era imposto, já o outro existia por conta própria e ninguém sabia.

Marina Tsvetáieva – O Diabo – Editora Kalinka


Oráculos da Semana

do meu tarô

Essa semana vamos nos encontrar com o Diabo. E graças aos deuses, com a melhor carta do Mystisches Kipper, a carta 15. Temos duas cartas 15 aqui. Convém prestar atenção neste número durante a semana. A carta 15 do Mystisches é o melhor complemento para o Diabo. Ela leva toda energia do Arcano trevoso para seu melhor lugar, um lugar de luz, esclarecimento e vontade firme.

Nesta semana precisamos pensar naquilo que nos tira do sério. No que nos faz perder o autocontrole, no que faz aflorar nossas facetas menos nobres, mais feias, mais sujas. Precisamos limpar a sujeira que está debaixo dos nossos tapetes. E a carta 15 do Mystisches vai nos ajudar na missão de encarar o Tinhoso, o Sete Peles, o Cramulhão.

Bom trabalho.

O DIABO – XV

O Diabo é uma das cartas mais complexas do tarô. Muitas vezes, ela é associada a forças malignas, acontecimentos ruins, perdas. No entanto, essa interpretação é incompleta e ignora a complexidade e o simbolismo dessa carta.
É bom encontrar o diabo logo cedo na jornada. Pois ele ensina onde está a nossa vilania e o nosso ponto cego. E quanto antes estivermos conscientes disso, mais tranquila poderá ser a caminhada.

O Diabo representa a sombra, a parte oculta e reprimida de nós mesmos que pode se manifestar de formas destrutivas ou criativas. Ele também simboliza o poder, a sexualidade, a paixão e a liberdade. Ele é aquela parte nossa sobre a qual não temos nenhum, ou quase nenhum controle. Em que situações perdemos nosso autocontrole? Onde essa perda nos traz prejuízos incalculáveis? Qual é o assunto que nos faz perder as estribeiras, a cabeça, o prumo e o rumo? Pois é sobre isso que precisaremos pensar nestes dias. O diabo nos convida a reconhecer e aceitar os nossos desejos mais profundos. E a saber se são viáveis ou não. Ele nos desafia a questionar normas e regras impostas pela sociedade, pela religião, pela moral ou pela criação. Ele nos mostra que somos responsáveis pelas nossas escolhas e pelas suas consequências. Sim! É sempre sobre as consequências de nossos atos, baby. Nem com o diabo você pode responsabilizar outrem.

Não vamos nos esquecer que todos somos produtos do meio, do tempo, da História. Mas o diabo está chamando para que você veja o que, nisso tudo, é responsabilidade sua. Ninguém vai lidar por você com seus demônios. Quanto antes você conhecer, nomear e souber lidar com seus diabretes, mais tranquilo será retirar o lixo. Porque o diabo é isso também, o lixo. Lixo é o que está fora do lugar, e o diabo sempre mostra isso, o que em nós, deixa de fazer sentido e é preciso abandonar.

A polaridade da carta do Diabo depende muito da forma como lidamos com as suas energias. Pode indicar uma situação de dependência, obsessão, manipulação ou ilusão. Nesse caso, ela nos alerta para os perigos de perdermos o controle ou a consciência de nós mesmos. Ela também pode indicar uma oportunidade de transformação, libertação, autoconhecimento ou expressão. Nesse caso, ela nos encoraja a explorar o nosso potencial e a nossa criatividade.

O Diabo é uma carta que nos convida a olhar para dentro de nós mesmos e a enfrentar os nossos medos e as nossas sombras. Ele nos lembra que somos seres humanos, com qualidades e defeitos, virtudes e vícios, luzes e trevas. Ele nos propõe um caminho de integração e equilíbrio entre os opostos que nos habitam. Ele nos ensina que não há bem nem mal absoluto, mas sim escolhas e consequências.

Carta 15

Esta carta é considerada uma das melhores cartas de todas. Mesmo que a situação geral seja difícil, assim que a 15 entrar em jogo, suas pendências e problemas em breve poderão ser coisa do passado. Ela pode dizer a respeito da vida amorosa, mas também de qualquer outra área. No trabalho, tudo começa a correr bem. A carta garante um resultado positivo em todos os relacionamentos; amorosos, familiares, amizades e sociais.Ela também indica que você em breve encontrará um novo amor, se é isso que você busca. Se você estiver atualmente apaixonado, pode esperar que esse sentimento seja correspondido.  E as pessoas com quem você se relacionar nessa semana de maneira importante terão o caráter amável, emotivo, fiel e leal.
♣️

Do Oráculo Mystisches Kipper

Texto para a semana em que estamos todos endiabrados

Principalmente a confirmação, que me deu, de que o Tal não existe; pois é não? O Arrenegado, o Cão, o Cramulhão, o indivíduo, o Galhardo, o Pé-de-Pato, o Sujo, o Homem, o Tisnado, o Coxo, o Temba, o Azarape, o Coisa-Ruim, o Mafarro, o Pé-Preto, o Ganho, o Duba-Dubá, o Rapaz, o Tristonho, o Não-sei-que-diga, O-que-nunca-se-ri, o Sem – Gracejos… Pois, não existe! E se não existe, como é que se pode se contratar pacto com ele? E a idéia me retoma. Dum mau imaginado, o senhor me dê o lícito: que, ou então – será que pode também ser que tudo é mais passa- do revolvido remoto, no profundo, mais crônico: que, quando um tem noção de resolver a vender a alma sua, que é porque ela já estava dada vendida, sem se saber e a pessoa sujeita está só é certificando o regular dalgum velho trato – que já se vendeu aos poucos, faz tempo? Deus não queira; Deus que roda tudo! Diga o senhor, sobre mim diga. Até podendo ser, de alguém algum dia ouvir e entender assim: quem-sabe, a gente criatura ainda é tão ruim, tão, que Deus só pode às vezes manobrar com os homens é mandando por intermédio do diá? Ou que Deus – quando o projeto que ele começa é para muito adiante, a ruindade nativa do homem só é capaz dever o aproximo de Deus é em figura do Outro?

João Guimarães Rosa – Grande Sertão: Veredas


Ler & Assistir em meio ao redemoinho

 A iconografia sobre o diabo é infinita, o que não falta são obras primas sobre o tema. Eu podia recomendar o maior de todos os livros sobre o diabo, Grande Sertão: Veredas, mas esse livro contém o mundo inteiro, não é só sobre o diabo. É claro que recomendo incondicionalmente, leiam. Assim como dezenas e dezenas de outras obras sobre o Tinhoso. Mas como recorte ficam aqui algumas outras sugestões.


Livros

Cartas do diabo a seu aprendiz, de C. S. Lewis – É uma obra-prima da literatura cristã ou não, que mostra como o inimigo de nossas almas tenta nos afastar de do caminho.


O livro é composto por 31 cartas fictícias escritas por um demônio veterano para seu sobrinho e aprendiz que tem a missão de tentar um homem específico. Em cada carta, o demônio dá conselhos e instruções sobre como explorar as fraquezas, as dúvidas, os vícios, as distrações e as ilusões do ser humano, para fazê-lo cair em pecado e desespero. C. S. Lewis usa de ironia, humor e criatividade para revelar as estratégias sutis e enganosas do diabo, que muitas vezes passam despercebidas no nosso dia a dia. Ao mesmo tempo, ele ensina a reconhecer e resistir às tentações e a buscar a graça e a verdade. É uma leitura divertida e reflexiva.

Cartas do diabo a seu aprendiz é um livro que nos instiga a examinar nossa vida espiritual, relacionamentos, pensamentos e nossas atitudes. É uma leitura que faz rir, refletir e suspirar, ao percebermos como somos vulneráveis e frágeis, mas como temos também em nós a capacidade de autoconhecimento e ética. É um retrato delicioso do diabo.


Margarida La Rocque – Dinah Silveira de Queiroz. Eu li para esse post, queria um livro menos óbvio e acabei numa autora nacional que esteve meio esquecida e agora volta à cena literária contemporânea. Gostei muito do livro, é  uma história bem diferente, supostamente inspirada num caso real. A leitura me prendeu, o que tem sido muito difícil atualmente.


Margarida La Rocque – A Ilha dos Demônios é um romance histórico-fantástico que narra a saga de uma jovem francesa que, no século XVI, é exilada em uma ilha misteriosa junto com sua ama e seu amante, após ser flagrada em adultério durante uma viagem à América. A ilha, conhecida como “ilha dos demônios”, é habitada por seres estranhos e assustadores, que vão testar os limites da sanidade, da fé e do amor dos três náufragos. O livro é supostamente baseado em um relato verídico de um navegador francês chamado Jean-François de La Rocque de Roberval, que teria abandonado sua sobrinha Marguerite de La Rocque em uma ilha do Canadá em 1542. A narrativa é feita em primeira pessoa pela própria Margarida, que conta sua história para um padre em um convento, anos depois dos acontecimentos. Ela revela os detalhes de sua vida na França, seu casamento com o aventureiro Cristiano, sua paixão pelo marinheiro João Maria, seu exílio na ilha dos demônios e seu destino surpreendente.

Dinah Silveira de Queiroz consegue criar uma atmosfera de suspense e mistério ao descrever a ilha e seus habitantes, que parecem saídos de um pesadelo. Ao mesmo tempo, ela retrata com sensibilidade e profundidade os sentimentos e conflitos de Margarida, que vive uma intensa experiência de amor, culpa, medo e loucura. Margarida La Rocque foi publicado pela primeira vez em 1949 e foi um sucesso no Brasil e no exterior. Foi traduzido para vários idiomas e elogiado por escritores como Colette. É o segundo romance de Dinah Silveira de Queiroz, uma das maiores autoras brasileiras do século XX, que também escreveu obras como A muralha e Floradas na serra.


Filmes

Coração Satânico – Alan Parker (1987). Adoro esse filme, me marcou muito também, lembro ainda hoje de várias cenas dele. É um dos meus filmes favoritos. É um filme de terror baseado no livro de William Hjortsberg.


O filme conta a história de Harry Angel (Mickey Rourke), um detetive particular contratado por Louis Cyphre (Robert De Niro), um misterioso cliente que quer encontrar um cantor desaparecido chamado Johnny Favorite. No entanto, conforme Harry investiga o caso, ele descobre que Johnny estava envolvido em rituais de magia negra e que seu destino está ligado ao de Cyphre. O filme é uma mistura de noir e horror, com uma atmosfera sombria e uma trama cheia de reviravoltas. O elenco conta com nomes como Lisa Bonet, Charlotte Rampling e Pruitt Taylor Vince. A trilha sonora é composta por Trevor Jones e inclui canções de blues e jazz. O filme foi elogiado pela crítica pela sua direção, roteiro, atuações e efeitos especiais, mas também foi alvo de controvérsias por suas cenas de violência e sexo. Coração Satânico é considerado um clássico cult do gênero e um dos melhores filmes de De Niro e Rourke.

Réquiem para um sonho – Darren Aronofsky – (2000) – O filme retrata de forma crua e realista os efeitos devastadores dos excessos a que nos entregamos. Pode funcionar, como substrato para a carta do Diabo, como um alerta para os perigos do vício, da ilusão, e de entrega sem controle mostrando que os sonhos podem se transformar em pesadelos, se deixamos que o Diabo tome conta do nosso quintal. Nunca tenha pena do diabo.


Réquiem para um sonho é um filme de 2000 dirigido por Darren Aronofsky que conta a história de quatro personagens que buscam realizar seus sonhos, mas acabam se envolvendo com o abuso de drogas. O filme é dividido em três estações do ano: verão, outono e inverno, mostrando a deterioração física e psicológica dos protagonistas. O que ele mostra é a ação mais direta da carta do Diabo, a perda absoluta do autocontrole na busca do prazer sem limites.

Minissérie

A Tempestade do Século – Minissérie – (1999). É uma minissérie de três episódios escrita pelo mestre Stephen King e exibida pela rede ABC em 1999. Eu adorei essa série, me lembro de ter ficado muito impactada quando vi, por acaso, no início dos anos 2000. Tem um clima assustador, é uma história que mexe fundo com a moralidade, com o que pensamos saber sobre o mundo. Acho que é uma obra muito subestimada e muito pouco vista.


A trama se passa na ilha de Little Tall, uma pequena comunidade isolada do continente que está prestes a enfrentar uma das piores tempestades de neve da história. Mas o clima não é o único problema dos moradores: um misterioso forasteiro chamado Andre Linoge chega à ilha e começa a aterrorizar e matar as pessoas, revelando seus segredos mais obscuros. Ele tem um pedido simples: “dê-me o que quero e eu irei embora”. Mas o que ele quer? E por que ele escolheu aquela ilha?

A Tempestade do Século é uma série envolvente, tensa e surpreendente, que mostra como o medo e a culpa podem levar as pessoas a decisões extremas. O elenco conta com atores como Tim Daly, Colm Feore, Debrah Farentino e Jeffrey DeMunn, que interpretam personagens complexos e conflituosos. A direção é de Craig R. Baxley, que consegue criar uma atmosfera sombria e claustrofóbica.

Documentário

O Diabo na Encruzilhada – Brian Oakes – (2019) Netflix. O documentário “O Diabo na Encruzilhada” explora a vida e a misteriosa morte do lendário bluesman Robert Johnson. Dirigido por Brian Oakes, o filme investiga a lendária história de Johnson, um músico pouco conhecido durante sua vida, mas que se tornou uma figura lendária no mundo da música após sua morte prematura. Eu assisti e gostei bastante, mas como sempre neste tipo de obra, fiquei pensando, como se dá pouco valor aos artistas não brancos. Como é pequeno, ou era pequeno o esforço pra preservar a memória, a obra, a figura desses artistas. É muito triste.


O documentário apresenta entrevistas com músicos, historiadores e amigos de Johnson, bem como dramatizações da vida e obra do artista. O filme também explora as lendas e mitos que cercam a vida de Johnson, incluindo a crença de que ele teria vendido sua alma ao diabo em troca de sua habilidade na guitarra. Com imagens e cenas evocativas, transporta o espectador para o mundo do Delta Blues do início do século XX. A trilha sonora, composta principalmente de músicas de Johnson, é habilmente integrada ao filme e ajuda a criar um clima de mistério e fascínio em torno da figura do artista. O documentário também é um retrato sombrio da vida de Johnson e das lutas que enfrentou como músico afro-americano na América segregada dos anos 30. O filme apresenta uma reflexão sobre a influência do racismo na vida e obra de Johnson, bem como na indústria da música como um todo, mostrando que o Mississipi dos anos 20-30 era o lugar mais perigoso para um homem negro estar.


Demons – Imagine Dragons


Uma anedota sobre o demônio

Havia um burro amarrado a uma árvore. O demônio veio e o soltou. O burro entrou na horta do camponês vizinho e começou a comer tudo. A mulher do camponês dono da horta, quando viu aquilo, pegou o rifle e disparou. O dono do burro ouviu o disparo, saiu, viu o burro morto, ficou enraivecido, também pegou seu rifle e atirou contra a mulher do camponês. Ao voltar para casa, o camponês encontrou a mulher morta e matou o dono do burro. Os filhos do dono do burro, ao ver o pai morto, queimaram a fazenda do camponês. O camponês, em represália, os matou.
Aí perguntaram ao demônio o que ele havia feito e ele respondeu: – “Não fiz nada, só soltei o burro”.


São Miguel é o arcanjo que derrotou o Demônio.

Uma oração para São Miguel

São Miguel Arcanjo, defendei-nos neste combate; 
Sede nosso auxílio contra as maldades e ciladas do mal.
Instante e humildemente vos pedimos que Deus sobre ele impere.
E vós, príncipe da Milícia Celeste, com este Poder Divino,
precipitai no inferno a satanás e aos outros espíritos malignos,
que vagueiam pelo mundo para a perdição das almas.
Amém.


Post com colaboração dupla da Dani


“E se Deus não nos ajuda, como recusar auxílio do diabo? O segredo, numa vida remendada, é manter o fio na agulha e saber aproveitar a ocasião.”

Mia Couto

16 de abril é o 106.º dia do ano no calendário gregoriano (107.º em anos bissextos). Faltam 259 dias para acabar o ano.

© Nalua – Notas da vida comezinha, nas Colinas de Minas Gerais, no começo do outono que já quase é alívio.

O diabo na rua, no meio do redemoinho